Título: Vítimas indefesas da crueldade humana
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, Brasília, p. D4

Numa gaiola do Centro de Triagem do Ibama, um sabiá-laranjeira ainda se recupera dos maus-tratos. Resgatado na última terça-feira numa casa em Águas Lindas (GO), o pássaro teve parte das duas asas amputadas. Uma delas ainda sangrava quando os fiscais fizeram o resgate. Na mesma operação, que apreendeu outras 17 aves, tinha ainda um pássaro-preto-policial, também conhecido como dragão-do-brejo, na mesma situação. Nenhum dos dois, jamais voltarão a voar em liberdade.

¿ Nesse local não nascerá mais pena. Até o osso foi cortado. Provavelmente quem fez isso queria cortar as penas para impedir que a ave voasse ¿ explica Adilson Gil, coordenador de Fauna do Ibama-DF.

Estes são apenas dois casos de maus-tratos dentre os inúmeros constatados pelo Ibama. Pelo menos 30% das aves apreendidas apresentam alguma seqüela, segundo Antônio Wilson Pereira da Costa, chefe da Fiscalização do Ibama-DF.

¿ As condições desses animais geralmente são precárias. Gaiolas sujas, muitas aves em uma mesma gaiola, água e comida em péssimas condições ¿ relata Costa.

Dificuldades Feita a apreensão começa uma corrida contra o tempo para reabilitar e encontrar o local ideal para a destinação dos bichos. Os que estão saudáveis, precisam ser reintroduzidos rapidamente no meio ambiente. No DF existem alguns agravantes.

Para começar, o Centro de Triagem do Ibama é improvisado numa pequena sala da superintendência regional. Antes de serem soltos, os bichos precisam passar por uma avaliação dos veterinários.

Como boa parte chega em situação precária, muitos precisam ficar dias sob cuidados médicos. A médica veterinária e consultora do órgão, Gisele Cavalcante explica que nem sempre o zoológico pode receber esses animais por causa da superlotação.

Aqueles que não podem ser soltos na natureza ¿ou porque foram mutilados ou porque passaram longos períodos em cativeiro ¿ são encaminhados para o zoológico ou para os criadouros conservacionistas (no DF são 85, sendo 15 registrados e outros 70 em processo de registro).

O problema é que tanto um quanto o outro estão superlotados.

¿ Temos que fazer triagem para saber onde o animal se adaptaria melhor e se o local pode recebê-lo. O tráfico não pára e todos os dias recebemos animais apreendidos ou entregues espontaneamente pela população ¿ diz Gisele Cavalcante.

A situação é mais grave no caso das araras e papagaios (Psitacídeos). As denúncias são freqüentes e quando são apreendidos, dificilmente conseguem voar novamente seja porque tiveram as penas cortadas ou porque perderam o hábito. ¿ Alguns chegam obesos. O trabalho de recuperação é demorado e outros têm que viver o resto da vida em cativeiro. Temos alguns papagaios aqui que não têm para onde ir. É uma situação periclitante ¿ diz.