Título: Longo caminho para a certificação
Autor: Carolina Benevides e Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, Rio, p. A23

No calçadão, quiosques ultramodernos; na areia, velhos problemas. Se por um lado a modernização da orla dará fôlego ao turismo, a cidade está longe de ganhar uma certificação que acaba de chegar ao Brasil, e cujo maior benefício é justamente atrair visitantes. Não é preciso andar muito pelas areias cariocas para perceber que muitos dos critérios analisados pelo Bandeira Azul - uma espécie de ISO 9000 das praias - não são atendidos em nosso litoral. O programa, criado em 1985 na França, certifica praias urbanas em todo o mundo e é administrado pela Foundation for Environmental Education (FEE), uma ONG com representações de 41 países, sediada na Dinamarca. Os critérios para que a praia ganhe a certificação são qualidade da água, ações de educação ambiental, segurança e infra-estrutura, entre outros. Eles ainda serão adaptados à realidade brasileiramas mas alguns deles, como a qualidade da água, são essenciais para a qualificação, como explica Marinez Scherer, do Instituto Ambiental Ratones, coordenadora do Bandeira Azul no Brasil.

- Vamos definir os critérios até o início de 2006 e, de ano em ano, eles são checados para ver se há manutenção. O selo é um atestado de que a praia é boa. Trata-se de um bom atrativo turístico, principalmente para o europeu - diz.

Para ganhar o Bandeira Azul, o município deve pedir o selo à ONG, que depois de fazer um check-list nos critérios, recomenda a praia a uma comissão nacional formada por orgãos do governo, ONGs e iniciativa privada. São Paulo e Santa Catarina já fizeram contato com o Instituto Ratones. O secretário municipal de Meio Ambiente do Rio, Ayrton Xerez, afirma que tem interesse em adquirir a certificação, apesar de ainda não conhecer o programa.

Consultado pelo JB, o biólogo marinho Marcelo Spilzman, diretor do Instituto Aqualung, aponta falhas das praias cariocas em alguns dos pré-requisitos do Bandeira Azul, como a ausência de ações de educação ambiental no litoral e de placas com informações sobre o ecossistema costeiro. A qualidade da água é outro problema:

- As praias ainda sofrem com as línguas negras e, quando chove, o esgoto desce das favelas.

Outra falha é a ausência de placas que informem a qualidade da água. Coordenadora de despoluição ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Carmen Lucarny conta que a prefeitura tentou, por duas vezes, instalar tais placas. Há cerca de seis anos, painéis eletrônicos foram expostos na orla mas hackers começaram a entrar no sistema e alterar informações. Depois, foram implantadas placas de madeira que acabaram furtadas.

- Estamos estudando um projeto de placas eletrônicas, com informações transmitidas via satélite - diz Carmen.

Xerez acrescenta que a prefeitura realiza ações de educação ambiental na praia no verão, mas admite que não faz monitoramento da fauna costeira.

Anna Turano, também do Aqualung, diz que há poucas latas de lixo nas praias. No dia 17, quando o instituto fez o recolhimento de lixo voluntário na orla, três toneladas de lixo foram recolhidas em Copacabana.