Título: Árbitro confirma fraude em 8 jogos
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, Esportes, p. A27

SÃO PAULO - Um escândalo envolvendo a manipulação de jogos do Campeonato Brasileiro pode complicar o desfecho da competição mais importante do esporte nacional. Preso ontem em Jacareí (SP), o árbitro Edílson Pereira de Carvalho confessou ter influenciado propositalmente o resultados de oito partidas do Brasileiro para favorecer um grupo de empresários - donos de casas de bingo em São Paulo e EM Piracicaba - que apostava em dois sites clandestinos na internet, o Aebet e o Futbet.

O golpe foi denunciado pela edição da revista Veja, que apresenta a transcrição de trechos de conversas entre Edílson e o empresário Nagib Fayad - que também foi detido na madrugada de sábado -, acusado de ser um dos líderes da quadrilha, que chegaria a faturar R$ 400 mil por jogo com as apostas - o juiz ganharia R$ 10 mil. As páginas dos sites saíram do ar com a alegação de estarem sob manutenção - a lei brasileira não permite este tipo de jogo de apostas no país.

Ao ser algemado por policias federais na porta da boate de seu irmão em Jacareí, Edílson Pereira primeiro negou ter manipulado o resultado dos jogos, mas acabou confessando:

- O que eu fiz foi porque ameaçaram minha filha e minha esposa. Ameaças de morte. Várias vezes antes de ir para o jogo - disse Edílson, que avisaria Nagib Fayad assim que era sorteado para os jogos para que o empresário organizasse as apostas.

Os dois devem ficar presos pelo menos por cinco dias na sede da PF em São Paulo, mesmo local onde estão detidos o ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho, Flávio Maluf. Além do mandado de prisão contra a dupla, a polícia foi autorizada a realizar busca e apreensão de objetos que possam colaborar com as investigações.

Comandada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo) e pela PF, a investigação começou há cinco meses e acredita que mais de 20 jogos foram manipulados. Mais um árbitro, Paulo José Danelon, que apitou jogos do Campeonato Paulista desde ano e da Série B também foi acusado. Danelon não foi encontrado em sua residência. Outros dois auxiliares também estão sendo investigados. A operação terminaria na semana que vem, mas foi antecipada para evitar a fuga dos acusados após a veiculação da Veja.

Nos diálogos, o árbitro é criticado pelo resultados dos jogos Juventude 1 x 4 Figueirense e Santos 4 x 2 Corinthians, placares que não estavam nos planos dos apostadores. Para se defender, Edílson disse que não pôde evitar a goleada do Figueirense devido à boa atuação de Edmundo. Em seguida, argumentou que no dia seguinte apitaria mais um jogo do Figueirense, contra o Vasco, e que, daquela vez, o resultado seria o esperado.

- Vê o limite que você pode jogar e mete ferro, que eu meto ferro dentro de campo. Pode jogar até os carros. Nem que eu tenha que sair escoltado (pelos policiais) - diz Edílson na conversa gravada.

No jogo em questão, o Vasco venceu o Figueirense por 2 a 1, em São Januário, em partida com dois lances polêmicos em favor do clube carioca. Primeiro, Edílson apitou um pênalti duvidoso em Romário, que bateu e abriu o placar. Depois, deixou de marcar um pênalti claro para o Figueirense.

Além dessas três partidas, outras oito tiveram Edílson como árbitro (ver quadro abaixo). Entre elas, Vasco 0 x 1 Botafogo, em que o gol da vitória saiu de um pênalti que gerou muitas dúvidas, mesmo após as imagens de televisão. Beneficiado contra o Vasco, o Botafogo perdeu de 4 a 1 para o Cruzeiro em partida com muitos erros de Edílson, a maioria a favor dos mineiros. Em Juventude 2 x 0 Fluminense, outro pênalti duvidoso e uma expulsão contra o tricolor carioca. O outro jogo envolvendo cariocas foi os 3 a 0 do Fluminense sobre o Brasiliense, sem lances polêmicos.

O artigo 275 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva determina a anulação de jogos manipulados por árbitros, caso haja comprovação de má-fé. Se isto de fato acontecer, a tabela seria alterada e clubes teriam que jogar novamente as partidas, já que nenhuma das equipes tem participação no golpe, de acordo com as denúncias. As equipes vencedoras, no entanto, certamente recorrerão da decisão já que serão punidas por atos que não cometeram, o que promete gerar um caos administrativo na competição.

- Se ele tiver sido decisivo, a partida terá que ser anulada -disse o presidente do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter.