Título: Rio anda menos na fila do emprego
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, Economia & Negócios, p. A19
O Rio de Janeiro vive o melhor período de criação de emprego formal dos últimos dez anos. O número de vagas abertas no acumulado de 12 meses calculado a cada mês vem se mantendo acima de 100 mil desde meados do ano passado, em um resultado jamais atingido pelo mercado de trabalho fluminense. Embora forte, a expansão não acompanhou, porém, o resultado nacional, devido ao fraco desempenho de sua indústria. É o que revela estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com base em dados do Ministério do Trabalho.
O indicador superou a marca de 100 mil no Rio em maio de 2004. Atingiu o pico - 114 mil - em agosto do ano passado. No mês passado, o indicador registrou 102 mil postos criados nos 12 meses anteriores. Desde janeiro de 2004, quando o indicador registrou 65 mil postos, o salto foi de 56,4%. Um belo resultado, levando-se em consideração que, entre 2000 e 2003, a média não passava de 65 mil e, até 1998, o resultado era negativo. Mas, em todo o país, o avanço foi de 80% do resultado nacional no mesmo período, 710 mil para 1,276 milhão.
Uma das razões para o resultado reside na estrutura da indústria fluminense. No estado, concentra-se a produção de bens de consumo não-duráveis e intermediários - os segmentos que menos se expandiram nos últimos meses. No país, a indústria avançou pelos setores de bens de capital e duráveis - que explodiram por conta do avanço do crédito -, que têm pouca representação no Rio.
- O Rio não foi beneficiado pela expansão da indústria dos últimos meses. O setor de bens intermediários teve o menor crescimento entre as categorias. Já o de bens de consumo não-duráveis depende da renda, que só agora está começando a crescer - explica Luciana de Sá, chefe do departamento econômico da Firjan.
O crescimento menor da indústria fluminense pode ser comparado, ainda, pela participação do setor na criação de empregos, que encolheu nos últimos 12 meses. Este ano, as fábricas fluminenses responderam pela abertura de 7.252 vagas, ou 9% dos 79 mil postos criados até agosto. Em igual período do ano passado, o setor criou 12.994 vagas, ou 15,25%. No Brasil, a atividade colaborou com a abertura de 18% do total ao longo do ano.
O setor de serviços liderou o crescimento do mercado de trabalho nacional. O Rio seguiu o movimento, mas em força maior. No total, o segmento respondeu por 453 mil vagas - ou 37% do total. Já no estado, as 47 mil vagas criadas respondem por 58% dos postos abertos.
O levantamento mostra que, nos últimos três meses, a criação de vagas entrou em declínio no Rio. Depois de atingir, em junho, 108 mil vagas, o acumulado de 12 meses caiu 102 mil em agosto, ou 5,7%. Mas, dessa vez, o Rio teve um desempenho menos negativo do que o resultado nacional, que tombou 12% na mesma comparação.
Mas, para Luciana de Sá, a tendência será revertida.
- A proximidade do fim do ano incentivará as contratações temporárias no setor de serviço. Na indústria, duas em cada dez empresas abrirão vagas, o que considero bom diante do perfil do setor no estado. Mas, com a taxa de juros enfim em trajetória de queda, a expectativa é positiva para todos os setores no ano que vem. E, com a inflação em queda, a renda aumentará, impulsionando as atividades econômicas - avalia.
Exemplo dessa perspectiva positiva é a unidade fluminense da fábrica de telhas e caixas d'água Eternit. Com capacidade produtiva de 14 mil toneladas de produtos por mês, a empresa deve ampliar em 10% as 140 vagas existentes. O plano foi incentivado pela expectativa de fechar o ano com um faturamento 40% superior a 2004.
- Esse foi um ano muito bom para nós. Depois de investirmos em qualidade, estamos colhendo os resultados. Mas não tenho dúvidas de que houve uma melhoria na renda. Nosso segmento é muio sensível a isso. Nosso cliente é aquele que compra material de construção aos poucos para reformar sua casa - comemora Rogério Renner, gerente da Eternit no Rio.