Título: "CPIs enfrentam dificuldades"
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, País, p. A7

O deputado Miro Teixeira (PT-RJ) é um dos principais personagens do do mensalão. Ele foi procurado por Roberto Jefferson (PTB-RJ), quando era ministro e depois, quando era líder do governo na Câmara. Nas duas oportunidades, ouviu do petebista que havia um esquema de pagamento de mesadas a deputados da bancada governista para que votassem matérias favoráveis ao Planalto. Miro pediu que Jefferson fosse com ele à tribuna ou ao presidente da República denunciar o fato. Jefferson diz que avisou Lula em janeiro e março de 2005, quase um ano depois da conversa com Miro. O Jornal do Brasil conversou com Miro em setembro de 2004. Voltou a falar agora, quando a primeira denúncia do mensalão completou um ano.

Se o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) não tivesse vindo a público confirmar as informações que o JB publicou em setembro do ano passado, esse escândalo jamais teria sido descoberto?

- Não sei é se já está descoberto o mensalão propriamente dito. Não percebo ainda, da parte das CPIs, uma constatação de que houve pagamento de mesadas, como a matéria do JB dizia à época. Eu já tinha ouvido um relato muito superficial do Roberto Jefferson e muito na linha do que o Jornal do Brasil publicou. Mas não tinha nenhuma prova como hoje ainda não existem provas. O que se constatou depois que o Roberto Jefferson fez a denúncia é que havia uma movimentação de dinheiro tão grande e tão injustificável que sugere um esquema de corrupção.

- O senhor levaria esse segredo até o fim da sua vida política?

- Não tinha segredo. Tinha um breve relato e estava buscando provas. Conversei com muitas pessoas buscando apurar. Quando o Jornal do Brasil publicou aquela matéria, começou a existir uma grande dificuldade para se fazer uma investigação. Hoje as CPIs também estão com dificuldade.

- O senhor temeu ter de enfrentar a mesma situação que ocorreu com o ex-deputado Roberto Jefferson?

- Não. Não sei o que aconteceria, mas não me importa muito também, porque quando você está convencido de uma coisa, você pode ser lançar à luta, faz parte da vida pública. Você tem que ter a convicção.

- Quando o então presidente da Câmara João Paulo Cunha ameaçou processar o jornal, o senhor não pensou em procurar outros parlamentares para dizer: ''Já ouvi essa história''?

- Na nota que eu divulguei, você vai perceber que um dos itens diz que não tenho provas do que vem sendo chamado de mensalão. Eu fiz questão de botar ali que eu já tinha ouvido falar. O Roberto Jefferson tinha me falado.

- Depois que a matéria saiu o senhor chegou a procurar o Roberto Jefferson?

- Não, não havia Roberto Jefferson ali naquela matéria.

- Na nossa matéria não havia, mas o senhor tinha ouvido a história dele.

- Quando o jornal deu, eu já tinha me encontrado com o Roberto Jefferson no corredor da Câmara e propus a ele fazer a denúncia da tribuna, porque eu não podia fazer sem ele, ele era a testemunha, quem descrevia os fatos. E ele me disse que não podia fazer isso porque transformaria o presidente Lula num réu.

- O senhor disse que Roberto Jefferson não contou tudo, que havia coisas que ele estava omitindo. O que ele escondeu?

- Quem participou da reunião que ele descreveu foi ele. Quando eu falei que ele não contou tudo, o que ele disse? Que devo estar enganado. Eu disse: ''Olha, ele mesmo já disse que deve ser um engano meu''. Se ele não confirma, como é que eu, que não assisti à reunião, não conheço a história, só conheço por intermédio dele, vou confirmá-la?

- Então vocês vão até o fim da vida sem divulgar essa parte?

- Não tenho informação. Só tomei conhecimento da história relatada por ele.

- O que o senhor tem a dizer sobre um ano da publicação da matéria do Mensalão no JB?

- Se não fosse pelos dois títulos, poderia ter se iniciado ali uma grande investigação. O teor da matéria, em nenhum momento, me cita como fonte. Quando você me propôs falar em off, eu disse: não existe off, só existe on. Se eu tivesse prova de alguma coisa dessas que você me descreveu, eu levaria ao presidente da República. Então não existe off. Se não fosse pelos títulos, acho que a comissão de inquérito teria começado ali. O Jornal do Brasil teve uma conduta muito digna, quando no dia seguinte, não se limitou a publicar minha nota. Publicou também ao pé da coluna de cartas uma correção, dizendo que diferentemente do que constava no título, eu não fui realmente a fonte da matéria.