Título: Baixo clero se une para a disputa
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/09/2005, País, p. A3

Candidatos de três dos protagonistas do escândalo do mensalão (PTB, PL e PP) fecharam um acordo e prometem tirar hoje um nome único para disputar a presidência da Câmara. Ciro Nogueira (PP-PI), Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) e João Caldas (PL-AL) reuniram-se no final da tarde e chegaram à conclusão de que separados ficarão espremidos entre governo e oposição, mas juntos teriam uma boa chance de chegar ao segundo turno. Suas bancadas, somadas, representam 144 dos 513 parlamentares. Esperam também ter apoios no PMDB e na oposição.

Os três partidos vêem em Michel Temer a garantia de uma vitória no primeiro turno da eleição. Na esperança de conseguir a adesão do deputado, as legendas adiaram para hoje a decisão sobre a candidatura de consenso. Ontem, eles iniciaram as conversas.

- Eles vão ter que trazer bons argumentos. Eu tenho certeza de que tenho votos suficientes para chegar ao segundo turno e ganhar as eleições - declarou Ciro Nogueira, corregedor da Casa e herdeiro político de Severino Cavalcanti (PP-PI). Hoje ele é o nome mais forte para encabeçar um possível acordo. Num segundo turno contra o governista Aldo Rebelo (PC do B-SP), espera ter o voto da oposição.

Outro pré-candidato, o liberal João Caldas (AL), adota uma conduta menos ortodoxa. Caldas torce para o acerto do grupo com Temer.

- A intenção é unir partidos da base, mesmo que diferentes entre si, em torno de uma candidatura que não seja teleguiada - disse o deputado João Caldas, após a reunião.

Segundo ele, o PFL não teria mais do que 100 votos. A mesma situação seria vivida pelo candidato do governo, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que enfrenta ainda a rejeição de ao menos 20 deputados petistas, avaliam.

- É uma disputa perdida para o governo. Do jeito que a base tem sido tratada pelo Planalto nesses três anos, e com o voto secreto, não há como o governo assegurar essa eleição - acredita Caldas que ontem aparentava maior disposição em abrir mão da candidatura em favor de Ciro. Fleury é uma incógnita.

O candidato do PP, Francisco Dornelles (RJ), resiste a participar do acordo selado ontem - o que pode trazer dor de cabeça para Ciro Nogueira. Ele foi escolhido o nome da bancada na semana passada, mas o partido está mudando de idéia. Cerca de um terço da bancada ainda se mantinha fiel a Dornelles hoje. Uma reunião do PP ontem à noite iria discutir o racha no partido, com possibilidade forte de um apoio a Ciro. Dornelles, contrariado, decidiu não ir ao encontro.

-Fui escolhido candidato pela bancada e vou levá-la ao plenário - disse.

A definição a respeito de um candidato único do centrão esbarra num problema simples, mas potencialmente intransponível: quem seria ele. Por isso, a aliança pode não ocorrer já. Ficaria para o segundo turno. Hoje à tarde, Ciro, Fleury e Caldas vão apresentar seus mapas de apoio e fazer contas.