Título: Começa a debandada do PT
Autor: Daniela Dariano e Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 27/09/2005, País, p. A5

Uma semana depois do primeiro turno das eleições internas do PT, e antes mesmo do anúncio oficial dos resultados - previsto para amanhã -, o candidato à presidência Plínio de Arruda Sampaio, o jurista Hélio Bicudo e os deputados federais Chico Alencar (RJ), Orlando Fantazzini (SP), Ivan Valente (SP) e Maninha (DF) se desfiliaram ontem do partido. A decisão veio depois dos resultados da composição do Diretório Nacional, que continuará sendo controlado pelo Campo Majoritário, e das denúncias de fraudes no primeiro turno, no qual Plínio, segundo a última parcial, ficou em quarto lugar, com 13,4% dos votos.

- Deixamos o PT pela certeza de que o partido não tem condições, perdeu a eficácia. O eleitoralismo dominou - acusou, negando ter condicionado a decisão à possível vitória de Raul Pont sobre Valter Pomar para disputar o segundo turno.

Para Plínio, a atitude dependia da forma como se desse a eleição, que, segundo ele, foi com voto de cabresto.

- Nem com toda a vigilância da imprensa, nem com todos os escândalos que cercam o partido, eles mudaram o processo. Uma coisa assustadora - criticou o intelectual, um dos fundadores do partido.

Plínio e os deputados irão para o P-Sol, da senadora Heloísa Helena. Plínio considera que ''estava chegada'' a sua hora, mas assegura não ter arrependimentos.

- O PT foi uma grande aventura política. O passado foi positivo - avalia.

Os deputado federais Chico Alencar e Maninha devem fazer o anúncio oficial da saída na manhã de hoje.

Helio Bicudo, que estava no partido desde sua fundação, não tem prazo para se desfiliar porque não tem cargo eletivo

- A decisão está tomada, mas ainda vou ver o que acontece nos próximos dias - disse.

O secretário-geral do PT e candidato à presidência do partido pelo Campo Majoritário, Ricardo Berzoini, lamentou o anúncio da desfiliação de petistas históricos, mas disse que a decisão de sair após a derrota eleitoral é antidemocrática.

- Qualquer desfiliação deve ser lamentada. No entanto, algumas dessas pessoas já haviam anunciado antes do processo eleitoral que, caso o resultado fosse desfavorável, eles não ficariam no partido. Me parece um comportamento antidemocrático a pessoa condicionar sua permanência na agremiação à correlação de forças internas - afirmou.

Apesar do lamento, Berzoini disse que os petistas que permanecem no partido também são ''históricos'' e que o PT também cresceu nos últimos anos com a filiação de outras lideranças de esquerda.

- A maioria que fica é tão histórica quanto aqueles que saem. O PT sempre teve filiações e desfiliações. Não atribuo a determinadas pessoas o monopólio de ser esquerda. Todo o PT é de esquerda, mesmo que com compreensões diferentes da realidade - atacou.

Tarso Genro, atual presidente do PT, afirmou em nota que a saída é um ato unilateral.

- A decisão de saída de um partido político é um ato de consciência, logo, uma tomada de posição unilateral de quem se retira de uma agremiação partidária - amenizou.