Título: Campo Majoritário à moda antiga
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 27/09/2005, País, p. A7

Depois de uma semana de apuração, os resultados finais dos estados mostram a força que o Campo Majoritário detém em todo o país. Grupo ligado ao deputado José Dirceu (PT-SP), o Campo conquistou no primeiro turno a presidência estadual de 15 estados e concorre no segundo turno em outros 8. Não bastasse, a corrente, que há 10 anos comanda com mão de ferro o partido, conseguiu maioria no Diretório Nacional e é a favorita à presidência nacional, com o secretário-geral da legenda, Ricardo Berzoini.

O grupo de Dirceu conquistou alguns dos maiores colégios eleitorais do PT, como em São Paulo, onde o candidato Paulo Frateschi venceu no primeiro turno, perdeu em outros importantes, como o Rio Grande do Sul (que elegeu Olívio Dutra no primeiro turno) e vai ter que disputar o Rio de Janeiro - onde concorre com o desconhecido Alberto Cantalice - e em Minas Gerais.

Ricardo Berzoini afirmou ontem que seu grupo tentará construir uma ''maioria política'' dentro do diretório, e não apenas uma ''maioria matemática''.

- É preciso discutir com todas as forças. O problema dos ataques que nos fazem é que se costuma localizar no Campo a primazia dos defeitos, não localizam nele a primazia das qualidades. Não lembram que hoje o PT tem 800 mil filiados, a maior bancada da Câmara e o presidente da República - atacou.

Apesar de afirmar que procuraria até mesmo a esquerda do PT para fazer uma aliança no comando do partido, Berzoini deixou claro que as políticas adotadas serão muito semelhantes às praticadas pela gestão anterior, inclusive em relação às alianças nas eleições de 2006.

- Política de alianças não é a que se deseja fazer, é a que se pode fazer. Em 2002, a aliança com o PL foi correta. Eles tinham o José de Alencar (vice-presidente). Assim que concluirmos esse processo eleitoral vamos começar a discutir isso. Teremos de avaliar quais são as alianças possíveis e quais são as desejáveis - destacou.

Outro ponto que promete causar polêmica é em relação às punições aos dirigentes do partidos envolvidos com denúncias de utilização de caixa 2 nas campanhas de 2002 e 2004. Até agora, o discurso era de que caso eles fossem punidos no Congresso ou na Justiça, a tendência era que fossem penalizados também dentro da legenda. Mas ontem, Berzoini mudou o tom.

- A Justiça apura a legalidade ou ilegalidade. O partido apura quebra de decoro ou não. Não vamos misturar uma questão de legalidade com a situação partidária de cada um - afirmou.

Numa indicação clara de que esse julgamento político pode ser favorável aos acusados, Berzoini citou os resultados das eleições internas.

- Nesse julgamento político, em vários locais houve decisão dos filiados de dar um crédito de confiança. Não quero entrar no mérito sobre se esse crédito está totalmente correto ou não, mas não podemos condicionar a militância de milhares de pessoas a um eventual julgamento jurídico de pessoas que tem história no partido e são acusadas por essas questões específicas - defendeu.