Valor Econômico, v. 20, n. 4885, 22/11/2019. Brasil, p. A6

Para Troyjo, país terá posição pragmática com Mercosul

Gabriel Vasconcelos



O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, afirmou ontem que o país terá posição “muito pragmática” com relação ao futuro do Mercosul e garantiu que a intenção de integrar a economia ao mercado mundial é “inabalável”.

“Não vamos nos permitir trafegar em velocidade de comboio em que a velocidade do comboio é definida pelo mais lento”, ressaltou Troyjo, que participou do primeiro dia do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex).

Segundo ele, a vontade do governo na “integração e exposição da economia brasileira à economia mundial é inabalável”. “Nossa postura no Mercosul vai refletir essa nossa determinação”, disse.

Ele ressaltou que a sintonia entre a Casa Rosada, sede do governo argentino, e o Palácio do Planalto foi fundamental para a conclusão do acordo comercial com a União Europeia. “Não conversamos com a futura Casa Rosada. Queremos pragmatismo. Na última reunião de cúpula do Mercosul, em Santa Fé [na Argentina], um dos elementos essenciais do documento era a identificação de quatro ou cinco projetos prioritários de infraestrutura transnacional, que precisa envolver pelo menos dois sócios do Mercosul”, exemplificou Troyjo, para quem pragmatismo “é continuar nessa linha de cooperação que foi estabelecida com o governo [Mauricio] Macri”.

Fontes do governo ouvidas pelo Valor disseram considerar o acordo entre Mercosul e União Europeia “um trem que já saiu da estação”. Haveria, por parte dos negociadores brasileiros, o entendimento de que as resistências na França - lobby contrário dos agricultores e questão ambiental - serão suplantadas pelos interesses de grandes conglomerados que operam na América do Sul e, mais especificamente, no Brasil. Nesse sentido foram citadas companhias francesas de alimentos e cosméticos, além de bancos, petroleiras e montadoras que, no longo prazo, devem se beneficiar do acordo.

“A real preocupação era se o novo governo argentino permaneceria no acordo e tudo indica que sim”, diz um participante direto das negociações. Até agora não teria havido contatos entre o governo brasileiro e a equipe do futuro presidente argentino, Alberto Fernández. No entanto, relatos sobre uma reunião entre Fernández e embaixadores do bloco europeu indicam ao governo que a parte argentina adotaria postura pragmática, permitindo a continuidade das tratativas.

A fonte disse, ainda, que não está nos planos sair do Mercosul, “que não se trata apenas de um bloco comercial, mas também de circulação de pessoas e serviços”. A posição brasileira admitiria, no máximo, o recuo para uma união aduaneira, o que liberaria os sócios para praticar diferentes tarifas de importação.

Ontem, no Enaex, Troyjo disse ainda que a próxima região com a qual o governo brasileiro quer intensificar trocas comerciais é o Sudeste Asiático, além de Índia e China. Com a China, reiterou, ainda não é possível pensar em acordo de livre-comércio, mas já há tratativas para expandir ainda mais as exportações de commodities. “O Brasil tem uma vantagem muito grande no setor agrícola. Onde há uma demanda voraz por esses bens? É no Sudeste Asiático. Temos vantagens comparativas que temos que aproveitar”, afirmou.