Título: Ceticismo no processo
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/09/2005, Internacional, p. A8

O desarme do IRA é o mais importante passo no processo de paz na Irlanda do Norte desde que a Grã-Bretanha abriu negociações com o Sinn Fein, o braço político da guerrilha, em 1994. No entanto, analistas concordam que o movimento chega tarde demais para relançar o projeto de administração conjunta do território por católicos e protestantes - o principal alvo do acordo de paz de 1998.

Esta complexa negociação envolveu ainda a exigência de que o IRA se desarmasse em maio de 2002. Mas anos de negativa e adiamento aumentaram a desconfiança protestante em torno do Sinn Fein. Moderados que queriam assumir riscos no processo de paz foram derrotados pelos linha-dura nas eleições.

- Ainda estamos em um período de vários meses, se não anos, de prorrogação política da questão - afirma o cientista político Paul Bew, da Queen's University, em Belfast.

A falta de crédito ao IRA não aparece apenas no meio acadêmico. Os Unionistas, que representam a maioria dos protestantes hoje, pediram que o desarme fosse comprovado por fotografias e uma testemunha independente. A guerrilha se recusou a permitir a tomada de imagens e selecionou dois religiosos para testemunhar: o reverendo Harold Good, ex-presidente da Igreja Metodista da Irlanda, e o padre católico Alex Reid.

- Uma testemunha indicada pelo IRA não tem a mesma credibilidade - disse o dirigente unionista, Nigel Dodds.

Em julho, o Exército Republicano Irlandês afirmou que estava abrindo mão da política de força para retomar o território da Irlanda do Norte, predominantemente protestante. Tal política foi fonte da maior parte da violência entre católicos e protestantes nos últimos 35 anos. Segundo o grupo, seus membros ''deporiam armas'' - deixando vaga a informação sobre quantidades. Para Londres, é crucial que o IRA mostre ''flexibilidade em abandonar a violência'', ou seja, dê provas de que entregou todo o arsenal.