O Globo, n. 32664, 11/01/2023. Opinião, p. 2

É amplo o apoio à democracia brasileira



Em poucas semanas, no início do próximo mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajará para os Estados Unidos, onde se encontrará com o mandatário americano, Joe Biden, na Casa Branca. Em conversa pelo telefone depois do ataque da minoria radical bolsonarista na Praça dos Três Poderes, Biden declarou “apoio incondicional” à democracia brasileira. O isolamento dos terroristas que assaltaram Brasília não é apenas um fenômeno doméstico. Declarações de vários chefes de governo e de representantes de órgãos multilaterais demonstram a existência de uma ampla rede internacional contrária à tentativa de golpe.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, declarou ter plena confiança nas instituições brasileiras e na capacidade de o país lidar com o desafio. Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, afirmou que a democracia “prevalecerá sobre a violência e o extremismo”. Emmanuel Macron, presidente francês, que deverá vir ao Brasil em breve, afirmou que a vontade do povo brasileiro e as instituições democráticas “devem ser respeitadas”. O chanceler alemão Olaf Scholz usou uma rede social para dizer que o atentado à democracia “não pode ser tolerado”. O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, lembrou que a ameaça é global. Na América Latina, os presidentes de Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai estão entre os que manifestaram rechaço aos extremistas.

Até mesmo países autoritários criticaram as cenas em Brasília. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, condenou “as ações dos instigadores de distúrbios”. Já o porta-voz do Ministério de Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, disse que o país “se opõe firmemente contra o violento ataque”.

As declarações desta semana evidenciam, de forma categórica, que as principais potências do Ocidente e os vizinhos da América Latina se preocupam com o que acontece no Brasil. O mundo vive um processo batizado de “recessão democrática”, uma expressão cunhada pelo cientista político americano Larry Diamond. Entre 1975 e 2007, o número de países democráticos aumentou de forma inédita. De lá para cá, teve início um processo de reversão. Atualmente, 38% da população global vive em países que não são considerados livres, segundo o índice da ONG americana Freedom House. Trata-se do maior percentual desde o final de década de 1990. As manifestações desde domingo são prova de que o mundo democrático não quer a saída do Brasil deste clube.

As críticas aos ataques aos prédios do Congresso, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto vindas de governos autoritários têm outra explicação. Não convém a ninguém uma crise de grandes proporções em um país responsável por uma fatia considerável das exportações globais de alimentos. Por seu tamanho e influência, o Brasil também poderia espalhar instabilidade pela América do Sul.

A responsabilidade de defender a democracia no Brasil é, e sempre será, tarefa intransferível dos brasileiros. Mas parece evidente que existe um ambiente internacional favorável. A minoria radical bolsonarista, que continua cometendo crimes, como a derrubada de torres de energia, está completamente sozinha.