Valor Econômico, v. 20, n. 4885, 22/11/2019. Política, p. A13

Apoio mútuo entre Alcolumbre e MDB visa sucessão no Senado

Vandson Lima
Renan Truffi 


Atirada ao ar em meio às pressões para que se posicionasse sobre a prisão em segunda instância, a sugestão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), de uma renúncia coletiva e realização de uma nova Constituinte não foi um ato impensado. E na verdade, nem original: detentor da mesma cadeira por quatro mandatos, Renan Calheiros (MDB-AL) usou a mesma saída em momentos de crise, como em 2013. E contou isso a Davi.

O caso é uma mostra da crescente aproximação de Alcolumbre à chamada “ala sênior” do MDB - além de Renan, Eduardo Braga (AM), Jader Barbalho (PA) e Fernando Bezerra Coelho (PE). Nas entrelinhas, está uma espécie de apoio mútuo visando a eleição do próximo presidente do Senado - que também é o presidente de todo o Poder Legislativo.

O MDB quer ajudar Alcolumbre a emplacar uma mudança constitucional para permitir a reeleição ao comando do Congresso por mais dois anos. Caso isso não seja possível, o presidente do Senado auxiliaria o MDB a indicar seu sucessor a partir de 2021. Hoje o favorito seria Eduardo Braga.

Pela regra atual, o mandato de presidente do Senado dura dois anos. A Constituição veda a reeleição dentro da mesma legislatura, de quatro anos, mas permite em legislaturas diferentes - ou seja, se o parlamentar preside a Casa nos últimos dois anos de uma legislatura e nos dois primeiros de outra. “Não faz sentido. O MDB concorda que, se o presidente está indo bem, deveria poder continuar dentro do mesmo mandato e ser proibida a recondução no início da legislatura seguinte, para não se perpetuar”, relata ao Valor um emedebista da velha guarda.

Se a alteração constitucional não for possível, entra em cena o MDB. O partido tem por tradição indicar seu líder, cargo hoje ocupado por Braga, e o mesmo tem se movimentado desde já para se cacifar como uma alternativa à presidência da Casa, entregam parlamentares de partidos da base e da oposição ouvidos pela reportagem. Mas tudo depende das circunstâncias políticas em 2021. No caso de um sucesso retumbante do governo do presidente Jair Bolsonaro, o líder do governo Fernando Bezerra sobe nas apostas. Em caso de fracasso, um nome independente ganha força - e aí até Calheiros estaria no páreo.

Na difícil tarefa de equilibrar as diferentes demandas do Senado, Alcolumbre tem buscado cada vez mais aconselhamento nas hostes emedebistas. Em outro momento de pressão, desta vez pela abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue os tribunais superiores, coube novamente a Calheiros instruir o presidente do Senado sobre como lidar com a opinião pública. Renan é um fanático por monitoramento de robôs em rede social e avisou Alcolumbre que ele precisava de alguém, um especialista, que soubesse separar o que é reverberação na opinião pública do que é robô nas redes, para não superestimar o barulho das manifestações.

Eleito com o apoio do ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, e da maioria dos senadores de primeiro mandato, Alcolumbre venceu a conturbada eleição à presidência do Senado escorado na tese da “nova política”, que tinha como seu contraponto justamente Renan Calheiros. Nomes como Tasso Jereissati (PSDB-CE), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Simone Tebet (MDB-MS) desistiram de se candidatar em favor do senador do DEM, acreditando que sua eleição seria o marco de uma nova era na Casa, desvinculada dos caciques do MDB que comandaram o Senado em quase todo o período democrático - à exceção de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) entre 1997 e 2001. Nesse desenho, Tebet e Jereissati eram dados como nomes naturais a suceder Alcolumbre, com seu amplo apoio.

Empossado, Alcolumbre agradou de início por ser, nas palavras de um dos recém-chegados, “jeitoso” no trato e capacidade de ouvir a todos. Contudo, sua atuação passou a usar dos mesmos expedientes de seus antecessores da “velha política”, como segurar o trâmite de indicações de diretores de estatais e embaixadores para pressionar o governo, assim como evitar embate com o Judiciário: ele começou o ano com dois inquéritos pendurados no Supremo Tribunal Federal (STF), mas ambos foram arquivados em julho.