O Globo, n. 32664, 11/01/2023. Economia, p. 15

Governo cria força-tarefa após derrubada de 3 torres de energia

Manoel Ventura
Bruno Rosa


Três torres de transmissão de energia elétrica foram derrubadas e outras estruturas ficaram danificadas na segunda-feira, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No total, seis torres foram atacadas. Os casos ocorreram no Paraná e em Rondônia. Relatório conjunto do Ministério de Minas e Energia e da Aneel aponta “indícios de vandalismo ”. Não houve suspensão no fornecimento de energia, mas o governo federal montou uma força-tarefa para acompanhar a situação e garantir a segurança energética, como antecipou o Valor Econômico.

A Aneel enviou ofícios às concessionárias de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e ao Operador Nacional do Sistema (ONS) informando a respeito da criação do gabinete de Acompanhamento da Situação do Sistema Elétrico Brasileiro, que receberá e processará informações referentes a qualquer tentativa de ataque ou efetivo vandalismo, tanto sob o aspecto de integridade física como cibernética das instalações.

No texto, a Aneel determina que as distribuidoras suspendam o fornecimento de energia elétrica “de possíveis instalações provisórias, relacionadas a acampamentos clandestinos de manifestantes, e identifiquem, se possível, os proprietários/consumidores responsáveis, com fins de encaminhamento para as autoridades públicas”.

Cabos cortados e trator

A situação mais grave ocorreu à 0h13m de segunda-feira. Uma torre de transmissão que faz parte do sistema responsável por escoar a energia gerada na Usina de Itaipu para o restante do país foi derrubada. Cabos de apoio foram cortados, e um trator foi usado para derrubar a torre, segundo integrantes do governo. Outras três torres foram avariadas na mesma região. O caso ocorreu em Medianeira, no Paraná, a 50km de Foz do Iguaçu.

“Há indícios de vandalismo. Não foram identificadas condições climáticas adversas que possam ter causado queda de torres”, aponta um trecho do boletim de acompanhamento do grupo.

Logo após a queda da torre, outra linha de transmissão assumiu o escoamento da energia, e não houve corte no fornecimento.

Outros dois casos ocorreram em Rondônia. Uma torre teve seus cabos de sustentação cortados e caiu. Outra foi derrubada. Nas duas situações, também não houve interrupção no fornecimento de energia. Em um dos casos, a empresa responsável pela torre aponta “indícios de sabotagem”, pois foram cortados dois estais (cabos de aço de sustentação da torre). Em outro, o grupo também vê sinais de vandalismo.

Em razão da derrubada das torres, o ONS informou ao governo que realiza, desde segunda-feira, operação diferenciada para aumentar a segurança do setor. São medidas tradicionalmente implementadas em eventos como eleições, Copa do Mundo e Olimpíadas.

“Ao longo do trabalho de monitoramento, o Operador foi comunicado de quedas de torres, mas nesta época do ano de condições climáticas severas, o incidente pode ser considerado normal”, afirma a nota, embora o documento do grupo do qual o ONS faz parte aponte indícios de sabotagem e vandalismo. “Neste momento, as causas estão sendo investigadas pelos respectivos agentes. O ONS segue acompanhando a operação e reitera que não houve impactos no suprimento de energia para a sociedade, permanecendo, na forma habitual, verificando todas as ocorrências”, completa o texto.

Mais equipes de segurança

As empresas acompanham o caso com atenção. O presidente de uma empresa de energia que pediu para não ser identificado disse que estão sendo contratadas equipes extras de segurança em todo o país para evitar impactos no fornecimento de energia em caso de novos ataques. O executivo lembrou ainda que foi feito reforço no sistema de tecnologia, apontado como um problema mais premente.

— Estamos acompanhando, mas as empresas contam com protocolos de segurança para instalações físicas e questões cibernéticas, já que os sistemas estão cada vez mais digitais. Até agora, não constatamos problemas desse tipo entre as distribuidores — afirmou Marcos Madureira, presidenteda Associação Brasileira de Distribuidores de Energia( Abradee ), esclarecendo que as companhias contam com sistemas de segurança que permitem que um segundo circuito continue a transmitir energia em caso de problema na linha principal.

Procurada, a Evoltz confirma que uma torre da linha de transmissão de 800MW da Norte Brasil Transmissora de Energia caiu na madrugada de 9 de janeiro, próximo ao município de Ariquemes, no Vale do Jamari, em Rondônia. “Funcionários da companhia estão em campo desde as primeiras horas do dia para averiguar o ocorrido junto a autoridades locais”, disse a empresa. Furnas e Eletronorte não comentaram o assunto até o fechamento desta edição.

Em nota divulgada à noite, o Ministério de Minas e Energia disse que o grupo de trabalho segue monitorando e subsidiando com informações necessárias às decisões para assegurar o suprimento energético e a preservação da cadeia mineral. “Paralelamente, foram acionados os órgãos de segurança federais e estaduais de modo a apurar e prevenir novos atos”, diz o texto.