Valor Econômico, v. 20, n. 4885, 22/11/2019. Política, p. A14

Migração será mais forte no Rio e quase nula no NE

Cristian Klein
Marina Falcão

A migração de deputados do PSL para o Aliança pelo Brasil não se dará de modo uniforme. Ela é mais concentrada no Rio de Janeiro e praticamente nula no Nordeste.

No Rio de Janeiro, reduto eleitoral do presidente, a adesão é maciça na Assembleia Legislativa, onde 9 dos 12 representantes do PSL devem acompanhá-lo - apesar de toda a insegurança jurídica que a transferência implica. Uma das maiores preocupações de quem está embarcando no Aliança pelo Brasil é o curto prazo, até abril, para legalizar o partido a tempo de concorrer nas eleições municipais do próximo ano. “Preocupa bastante, mas pode acontecer”, reconhece o risco o deputado federal Daniel Silveira.

Com a divisão oficializada, o diretório do PSL fluminense foi o primeiro afetado pela saída do senador Flávio Bolsonaro - que já se desfiliou - e a confirmação do deputado Sargento Gurgel como novo presidente estadual da legenda. Numa bancada federal de 12 parlamentares, Gurgel ficará no PSL ao lado de, pelo menos, outros três - Felício Laterça, Delegado Antônio Furtado e Lourival Gomes. A dúvida era se Professor Joziel também se juntaria ao grupo, mas a maior probabilidade é de seguir Bolsonaro.

Na prática, porém, todos ainda permanecem no PSL, já que a troca de partido, sem justa causa, pode levar à perda de mandato. No curto prazo, a expectativa dos dissidentes é obter a liberação se forem expulsos ou na Justiça, sob a alegação de perseguição política. No longo prazo, a saída sem litígio dos deputados só poderá ocorrer na janela de transferência partidária em 2022. Para filiações de vereadores, a janela de mudança se abre em março do ano que vem.

Na Assembleia, Gurgel afirma que ficam “quatro ou cinco deputados”, mas três são os citados: Alexandre Knoploch, Gil Vianna e Gustavo Schmidt. “As decisões agora [no PSL] partem de nós”, afirma o dirigente. Gurgel diz que nunca teve o controle de diretórios municipais e não se queixou a Flávio, mas que outros deputados não respeitaram a decisão do filho de Bolsonaro. Apesar disso, afirma que o grupo que fica no PSL não fará oposição ao governo federal, porque há alinhamento de ideias e as pautas convergem.

Gurgel diz que a tendência é o PSL voltar à base do governador Wilson Witzel (PSC). Witzel se tornou um desafeto de Flávio e de Jair Bolsonaro ao se projetar como pré-candidato à Presidência em 2022. “Não se pode criar inimizade a troco de nada. Se o governador vai ser candidato, existe ainda um segundo turno”, diz o parlamentar. Questionado se o grupo teria a obrigação de apoiar a reeleição de Bolsonaro, Gurgel nega. “Obrigação nossa é com as pautas. Obrigação nem quem vai [para o Aliança] tem”, diz.

Gil Vianna diz que fica no PSL pois não vai “bater palma para maluco”. “Ninguém manda em mim. Ditadura não funciona comigo”, afirma. O parlamentar conta que, assim como Knoploch e Schmidt, já tinha dado sinais de discordância ao votar contrariamente à orientação da ala majoritária da bancada. Pré-candidato a prefeito em Campos dos Goytacazes, afirma que gostaria de contar com o apoio de Bolsonaro, mas, se não tiver, terá bom tempo de propaganda em rádio e TV e recursos do fundo eleitoral do PSL. “Não sou garoto de primeira viagem. Tenho meu capital político”, diz.

Em Minas Gerais, o deputado federal e presidente do diretório estadual Charlles Evangelista afirma que fica no PSL, além de mais dois colegas: Delegado Marcelo Freitas e Enéias Reis, suplente do ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio. O ministro é pivô do escândalo de candidaturas laranjas do PSL. Evangelista diz ter bastante proximidade com Álvaro Antônio, mas que o ministro “ainda não se manifestou sobre seu destino partidário”. Os demais parlamentares do PSL mineiro na Câmara - Alê Silva, Junio Amaral e Léo Motta - estão de malas prontas para o Aliança assim como metade dos seis deputados estaduais.

No Espírito Santo, a deputada federal Soraya Manato tende a permanecer no PSL, apesar de seu marido e presidente do diretório estadual, o ex-deputado Carlos Manato, afirmar ao Valor que ajudará na coleta de assinaturas para o Aliança. Dos quatro deputados estaduais, um deve ficar, mas estaria a caminho do Cidadania, diz o dirigente.

No Nordeste, nenhum dos quatro deputados federais do PSL pretende se transferir para o novo partido de Bolsonaro. Além do presidente nacional da legenda, Luciano Bivar (PE), os três parlamentares eleitos pelo PSL na região - Julian Lemos (PB), Heitor Freire (CE) e Professora Dayanne Pimentel (BA) - permanecerão na sigla. Mas parte dos deputados estaduais, alguns insatisfeitos com o comando do partido em seus Estados, fala em migrar para o Aliança pelo Brasil. (Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)