O Globo, n. 32664, 11/01/2023. Política, p. 9

Demanda de aliados

Bela Megale


Os atos terroristas em Brasília aumentaram a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que retire a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) da tutela militar. Hoje, o órgão está no guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), antiga Casa Militar, comandado pelo general da reserva Gonçalves Dias. Nome de confiança do presidente, G Dias, como é conhecido, já ocupou outros cargos de chefia em governos anteriores de Lula e atuou na sua segurança privada durante a campanha.

Diante dos atos de terrorismo realizados em Brasília, membros do governo veem uma oportunidade para reestruturar e fortalecer a Abin. Desde os ataques de domingo, ministros e aliados de primeira hora de Lula passaram a se articular para que a inteligência de Estado, feita pelo órgão, seja vinculada a outro órgão, de preferência a Casa Civil, comandada pelo ministro Rui Costa. A medida também conta com o apoio da cúpula da Polícia Federal.

— O que defendo é seguirmos o modelo internacional e termos uma inteligência de Estado civil. Há três tipos de inteligência: a de Estado, a de polícia e a militar. O serviço de inteligência do Estado, que é feito pela Abin, não pode ficar subordinado aos militares — disse o ministro da Justiça, Flávio Dino.

Questionado se a agência deveria ir para sua pasta, Dino disse que o que importa é ter uma inteligência civil e aponta a Casa Civil como opção.

Outro integrante do governo que defende esse modelo é o ex-deputado e secretário do Ministério da Justiça Wadih Damous:

— É necessário ter nossa agência de inteligência bem estruturada, trazendo informações ao Estado, mas fora da tutela militar. A formação de muitos militares brasileiros ainda remonta à Guerra Fria e à visão da suposta ameaça comunista. Isso contamina o serviço de inteligência.

O tema já foi abordado com Lula por diferentes integrantes do governo, entre eles o próprio ministro Flávio Dino. O petista, no entanto, tem ouvido e se mantido em silêncio.

A demanda vai ao encontro de um pleito antigo de agentes da Abin, que também defendem a saída do órgão do GSI. O diretor-adjunto da Abin, Saulo Moura da Cunha, se reuniu com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para tratar do tema.

A proposta chegou a ser debatida na transição de governo, mas não avançou. A equipe de Lula já mostrava incômodo com a militarização da inteligência e avaliava que esse formato era um “resquício do período da ditadura militar”.

Como informou a jornalista Andréia Sadi em seu blog no “G1”, a Abin alertou autoridades de segurança do Distrito Federal, ainda na manhã de domingo, que os bolsonaristas planejavam depredar o patrimônio público e promover atos violentos nas sedes dos Três Poderes.

Reunião com Castro

Ontem, Lula teve sua primeira reunião com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL). Castro disse que, no encontro, ficou “muito claro” que “não serão inimigos”.

— Nossa obrigação é trabalhar juntos, já que eu e ele fomos escolhidos pelo povo — disse o governador.

A reunião foi organizada pelo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Castro foi o candidato ao governo do Rio apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mas evitou fazer críticas diretas ao petista na sua campanha. A conversa passou por temas como a revisão da recuperação fiscal do Rio, o uso das arenas das Olimpíadas 2016 e do Maracanã e o setor de óleo e gás.