Valor Econômico, v. 20, n. 4806, 02/08/2019. Empresas, p. B1

Petrobras registra seu maior lucro trimestral da história

André Ramalho
 Rodrigo Polito
 Ivan Ryngelblum
 Marcelle Gutierrez




Impulsionada pela venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), a Petrobras registrou, no segundo trimestre, o seu maior lucro trimestral da história, no valor de R$ 18,866 bilhões - o que representa uma alta de 87% frente a igual período do ano passado. O resultado positivo garantiu aos acionistas o recebimento de R$ 2,6 bilhões, na forma de juros sobre o capital próprio antecipados.

A antecipação da distribuição, aprovada pelo conselho de administração em meio à expectativa da melhora do lucro para o exercício de 2019, equivale a R$ 0,20 por ação ordinária e preferencial por circulação, superando os R$ 0,10 por ação do trimestre anterior.

Excluídos os fatores não recorrentes e os efeitos da norma contábil IFRS 16, o lucro contábil da empresa foi de R$ 5,2 bilhões. Ao todo, os itens não recorrentes somaram R$ 20,8 bilhões no segundo trimestre. O montante inclui ganhos com vendas de ativos (R$ 21,2 bilhões), como a TAG e a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos; as perdas com contingências judiciais (R$ 680 milhões) e os efeitos do programa de desligamento voluntário, de R$ 336 milhões. O PDV, focado em aposentados e aposentáveis, contava com 1.560 adesões até o fim de julho, segundo a empresa

A Petrobras acumula, ao todo, desinvestimentos de US$ 15 bilhões no ano, até o final de julho. Os ganhos do programa de venda de ativos compensaram as maiores variações cambiais negativas e o aumento das despesas com imposto de renda e contribuição social - fruto do maior resultado antes de impostos e da baixa de ativos fiscais diferidos sobre parcela de provisões judiciais.

A receita de vendas da estatal somou R$ 72,5 bilhões no trimestre, queda de 3% ante igual período de 2018. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), por sua vez, cresceu 8,6% no trimestre, para R$ 32,6 bilhões, na mesma base de comparação.

Na mensagem enviada aos acionistas, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que o resultado do segundo trimestre foi beneficiado por fatores externos e por eventos não recorrentes, mas destacou que o endividamento da empresa ainda se mantém elevado. A petroleira fechou o trimestre com uma dívida bruta de US$ 101 bilhões, queda de 4,7% ante março. Já a dívida líquida somou US$ 83,6 bilhões, 12,4% menor em relação ao trimestre anterior, sobretudo devido aos desinvestimentos. A alavancagem da companhia, medida pela relação dívida líquida sobre Ebitda, caiu de 3,19 vezes no primeiro trimestre para 2,69 vezes, considerando o IFRS 16.

"A Petrobras se defronta ainda com alavancagem financeira excessiva para uma companhia produtora de commodities", afirmou o presidente da empresa.

Ele disse esperar, contudo, uma diminuição da dívida bruta no terceiro trimestre deste ano. Castello Branco acrescentou que os encargos financeiros consomem cerca de 40% do caixa operacional da companhia atualmente, "o que evidencia a necessidade de desinvestimentos para a redução do endividamento".

O executivo informou que tem a intenção de vender parcial ou totalmente a participação remanescente da Petrobras na BR Distribuidora. Depois da oferta secundária de ações detidas pela estatal na distribuidora, a petroleira mantém uma fatia de 37,5% do capital da BR. Ao todo, a companhia estima um ganho de R$ 14,2 bilhões antes dos impostos como resultado da alienação de suas ações na distribuidora, em julho. O valor será reconhecido no balanço do terceiro trimestre.

Com relação ao plano de desinvestimentos na área de refino, o executivo lembrou que a empresa já lançou o primeiro pacote de venda de quatro refinarias (Repar, Rnest, Rlam, e Refap) e acrescentou que os "teasers" (alertas de venda) de outras quatro (Reman, Lubnor, Regap, SIX) serão lançados no próximo mês.

Ele reforçou, ainda, que a companhia está "firmemente" comprometida em sair "completamente" dos negócios de transporte e de distribuição de gás natural, concentrando-se apenas em exploração e produção do energético.

A Petrobras informou, ainda, que, "em benefício da transparência e da eficiência na alocação do capital", reduziu a previsão de investimentos para 2019, de US$ 16 bilhões para um valor entre US$ 10 bilhões e US$ 11 bilhões. Ele ressaltou que esses valores não incluem eventuais montantes a serem investidos em leilões de blocos de petróleo e gás este ano. Segundo Castello Branco, o retorno sobre o capital empregado se situa até agora em torno de 8%, "o que evidencia a imperiosa necessidade de iniciativas para melhorar a alocação de capital".

A estatal encerrou o segundo trimestre com R$ 68,39 bilhões em caixa, um montante 67,44% superior aos R$ 40,84 bilhões do primeiro trimestre deste ano. Segundo a empresa, o segundo trimestre foi marcado pela entrada de recursos provenientes da geração operacional de caixa de R$ 20,5 bilhões, com as captações de R$ 1,9 bilhão e recebimento de R$ 34,5 bilhões da venda de ativos.

"Esses recursos foram destinados ao pré-pagamentos de dívidas, a amortizações de principal e juros devidos no período e ao capex nas áreas de negócio", comunicou a companhia petrolífera no informe de resultados.

A empresa informou ontem, também, a criação de uma nova diretoria: a de transformação digital. Castello Branco explicou que a nova diretoria é "fundamental para a concentração de esforços para a modernização da infraestrutura de tecnologia da informação, a coordenação e o aprofundamento de iniciativas para o emprego intensivo de inteligência artificial".