O Estado de São Paulo, n. 46824, 29/12/2021. Política p.A7

 

'O que está por trás são as condições de governabilidade e isso exige tempo'

 

José Álvaro Moisés, cientista político e professor da USP

Daniel Reis

O caminho mais razoável, na opinião do cientista político da USP José Álvaro Moisés seria que "ao invés do fim da reeleição", os candidatos propusessem formas de controlar "os exageros e a exploração dos mecanismos".

 

Os presidenciáveis utilizam o discurso contrário à reeleição para facilitar alianças políticas?

É provável que sim, mas nada disso existe com garantia. E ninguém pode dar uma garantia total de que no processo político não vai haver modificações, mudanças, em funções de novas conjunturas. É uma possibilidade, mas não é um imperativo.

 

Caso sejam eleitos, é provável que esses pré-candidatos mudem de opinião?

É impossível ter um controle absoluto sobre o que as pessoas farão no futuro, principalmente no terreno da política. Por uma razão simples: a política não é uma ciência exata. Mudam as conjunturas, mudam também as condições e os atores podem mudar de opinião. Podem mudar de projeto. Ainda que isso seja indefensável pela opinião pública.

 

O que os candidatos querem ao anunciar que são contrários à reeleição?

Os candidatos que hoje defendem o fim da reeleição, ao invés de enfrentar o problema que está por trás da questão, estão adotando uma posição mais aceitável, mais próxima da opinião pública, mas sem enfrentar de frente a questão.

 

De que maneira poderiam enfrentar essa questão?

O que está por trás são as condições de governabilidade e isso depende de tempo, de energia, de capacidade de fazer. Quatro anos são mandatos muito curtos, que não resolvem o problema. Em alguns casos, é necessário ter um diálogo crítico com a opinião pública. Remar contra a corrente.

 

Então é um caminho menos simples?

São um conjunto de regras que podem ser tomadas, que precisam ser examinadas, refletidas e decididas pelo Congresso. Seria mais importante que os candidatos propusessem, ao invés do fim da reeleição, formas de controlar os exageros e a exploração dos mecanismos do que excluir a reeleição. / D.R.