Título: Partidos do mensalão ajudaram Aldo
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sérgio Pardellas, Fernando Ex
Fonte: Jornal do Brasil, 29/09/2005, País, p. A3

O governo abriu os cofres para emendas parlamentares, negociou com os partidos acusados de participar do esquema do mensalão, trocou de candidato às vésperas da eleição para ter um nome mais palatável e conseguiu eleger Aldo Rebelo (PCdoB-SP) como presidente da Câmara até fevereiro de 2007. Em uma votação dramática, onde os aliados comemoraram, tensos, voto a voto, como numa partida de futebol, Aldo recebeu 258 votos contra 243 do pefelista José Thomaz Nonô (AL). ¿ Este espaço é independente. Tenho o compromisso de restabelecer a confiança da sociedade na instituição - prometeu Aldo, em discurso já como presidente eleito.

Os governistas calculavam que o placar poderia chegar a 30 votos de diferença. A oposição apostava em uma margem menor, 20 votos. Mas o que se viu foi uma disputa acirrada. A maior margem de votos chegou a pouco mais de 15 votos. Em certos momentos, a diferença chegou a um voto. Quando a contagem chegou a 213, os dois candidatos estavam rigorosamente empatados. Neste instante, os petistas ameaçados de cassação ¿ João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP) e José Dirceu (PT-SP) ¿ surgiram no Plenário, para acompanhar o fim da apuração.

Aldo, que afirmou em seu discurso que teria a coragem para condenar quem tem culpa e isentar quem não tem, venceu com a ajuda dos partidos acusados de serem beneficiários do mensalão ¿ PP, PTB e PL. O governo cooptou os votos do PL ainda no primeiro turno das eleições de ontem na Casa e correu para fechar os apoios do próprio PTB e do PP assim que foi confirmada, em segundo turno, a disputa entre Aldo Rebelo e o pefelista José Thomaz Nono (AL). Após reuniões de bancadas, as duas legendas decidiram encaminhar o voto a favor do candidato do Planalto.

¿ Segundo turno é momento para agregar forças. Primeiro turno é disputa ideológica. No segundo, é hora de juntar tudo o que der ¿ declarou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).

Um dos principais articuladores da vitória de Aldo, o deputado Eduardo Campos (PSB-PE) afirmou que o único momento em que o governo agiu de maneira pesada foi na negociação com o PL, na qual foi prometida a liberação de emendas parlamentares para o Ministério dos Transportes.

¿ A negociação política foi no limite, costurando, ganhando voto a voto ¿ afirmou Campos.

Os ministros do PP e PTB foram fundamentais na vitória de Aldo. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia e das Cidades, Márcio Fortes, foram ao Congresso conversar com suas bancadas. Ciro Nogueira, do PP, levou 76 votos em primeiro turno, contra 41 do petebista Luiz Antônio Fleury Filho (SP).

¿ Respeitamos as posições divergentes dos companheiros, mas o PP optou, por maciça maioria, em apoiar Aldo Rebelo ¿ confirmou o líder do PP na Casa, José Janene (PR).

A vitória de Aldo é simbólica. Pela primeira vez, um comunista comanda a Câmara dos Deputados. Vice-líder do governo na Casa, Beto Albuquerque (RS) ironizou:

¿ A sociedade está evoluindo. Temos um comunista eleito pelos evangélicos - numa alusão a um dos acordos que Aldo fez entre o primeiro e o segundo turno. O primeiro registrou um empate histórico de 182 votos para Aldo e Nonô.

No segundo turno, o resultado, apertado, mostra que o Planalto terá muito o que negociar. Desde que perdeu o comando da Câmara para o PP de Severino Cavalcanti (PE), o Executivo nunca mais teve sossego. De lá para cá, já foram instaladas três CPIs, quase 20 deputados estão sob ameaça de cassação e o governo Lula vem sendo acusado de comandar o maior esquema de corrupção dos últimos tempos.