O Globo, n. 32664, 11/01/2023. Política, p. 10

Custo do vandalismo

Gabriel Sabóia
Paula Ferreira
Jussara Soares


Perícia feita pela Câmara dos Deputados após os danos provocados por manifestantes golpistas estima em ao menos R$ 3 milhões os prejuízos causados ao patrimônio público. O valor inclui mesas de vidro, cadeiras, mais de 400 computadores quebrados, além duas caminhonetes da Polícia Legislativa. Ainda deve ser incluída na conta a restauração de itens históricos, como um vitral do artista plástico Athos Bulcão e uma cadeira projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. No Senado, o prejuízo deve superar R$ 4 milhões, também sem contar as obras de arte. Vândalos chegaram a urinar em uma tapeçaria de Burle Marx.

Obras de arte que foram presenteadas à Casa, como vasos de porcelana chinesa e uma peça feita em ouro e pérolas, que foi dada pelo então primeiro-ministro do Catar em visita ao Brasil, seguem desaparecidas. Outra obra, esta dada pelo presidente da Câmara dos Deputados da Índia ao governo brasileiro, feita de ouro e cravejada por cristais Swarovski, também não foi localizada.

A escultura “A bailarina”, feita em bronze pelo artista plástico Victor Brecheret, em 1920, que tinha sido dada como desaparecida, foi encontrada. Porém, quebrada em seu pedestal. O marchand Evandro Carneiro avalia a peça em R$ 300 mil e diz que, por ser de bronze, pode ter um tipo de restauração mais complexa.

Uma poltrona estofada em couro legítimo, projetada por Oscar Niemeyer e Ana Maria Niemeyer, em 1970, sofreu avarias. Assim como um painel esculpido por Athos Bulcão, que foi atingido por objetos e está danificado. Ainda não se sabe qual será o custo dos reparos dessas obras.

Só em vidraçaria, o prejuízo estimadoédeR$100mil.Outros bens danificados também não constam na lista, como mesas de vidro do Salão Verde e de lideranças partidárias, além da mesa de telefone do Colégio de Líderes.

A Câmara informou que ainda não foram levantados os custos com mão de obra e material necessários para a limpeza dos ambientes, além de reparos da rede elétrica da plataforma superior do Palácio do Congresso.

No Senado, de acordo com a diretora-geral, Ilana Trombka, será necessário trocar todo o carpete do Salão Azul, que ficou encharcado. Só a troca de vidraças deve superar R$ 1 milhão.

— A gente ainda precisa fazer um diagnóstico minucioso em cada obra de arte que foi danificada, em cada bem cultural, mas um ato de vandalismo numa obra de arte deixa marcas perenes. Por melhor que seja o processo de restauração de uma obra, as marcas da agressão serão eternas —lamentou.

Ela afirmou que será dada prioridade a obras visando à posse dos novos senadores, marcada para o dia 1º de fevereiro.

Ontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a previsão é que as obras de reparos estejam concluídas em 40 dias. Ele disse que a Advocacia do Senado vai entrar com uma representação penal contra os criminosos individualmente.

— Não é justo que o povo brasileiro pague pelos danos provocados —afirmou.

STF e Planalto

Sede mais atingida pela atuação dos golpistas, o Supremo Tribunal Federal ainda não contabilizou o prejuízo. Segundo a assessoria da Corte, somente após a perícia, técnicos poderão fazer um levantamento do dano ao prédio.

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República também não informou ainda os custos gerados pela depredação do Palácio do Planalto. Inicialmente, a Secom divulgou apenas uma lista prévia de obras de arte danificadas, contabilizando mais de R$ 10 milhões.