Título: Lula condena ''pequenez política''
Autor: Fernando Exman e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 29/09/2005, País, p. A5

Enquanto a Câmara dos Deputados vivia um de seus dias mais agitados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu se afastar da capital federal. No Sul da Bahia inaugurou um assentamento de sem-terra e uma fábrica de celulose. Mesmo longe de Brasília, não se esqueceu, no entanto, de cutucar a ''pequenez política'' que, em sua avaliação, não pode prejudicar a política econômica.

O presidente também falou sobre as dificuldades que o governo enfrenta para aprovar obras e projetos.

- Fazer as coisas nem sempre é fácil como se pode imaginar. Existe uma correlação de forças e nem sempre esta correlação está a nosso favor - disse o presidente.

Antes de ir ao assentamento, o presidente participou da inauguração, no município de Eunápolis, da fábrica de celulose Veracel, uma joint venture do grupo Aracruz com a sueco-finlandesa Stora Enso. Para uma platéia de empresários, Lula enfatizou o ciclo de crescimento da economia do país, que, segundo ele, está sendo iniciado.

- Há muito tempo o Brasil não concilia dados como o crescimento das exportações, importações e da poupança interna e redução da relação entre dívida e PIB - afirmou Lula.

De acordo com o presidente, tais números só estão sendo atingidos porque ''a política econômica não é feita para a próxima eleição, mas para a próxima geração''.

- Estamos pensado um país para os nossos netos, em que a política econômica seja blindada em relação à pequenez política, o que às vezes acontece em nosso País - argumentou.

Lula ressaltou, ainda, que o governo tem orientado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a vincular seus empréstimos para o setor de celulose ao desenvolvimento de pequenos e médios fornecedores da região do investimento.

- Hoje, cerca de 19% do plantio para celulose é feito em terras de pequenos produtores. Nosso objetivo é chegar a 30% em 2007 - acrescentou.

No discurso aos trabalhadores rurais do assentamento Fazenda Coroa, no município de Santa Cruz de Cabrália, o presidente criticou a ação de alguns líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST), que invadiram na última semana prédios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

- Pensei em não vir, mas achei que seria uma insensatez fazer o povo pagar por divergências entre o presidente e algumas lideranças. Pensei e decidi vir - disse.

Lula disse ter ficado chateado por achar que ''muitas vezes não é preciso fazer barulho para se chegar a um acordo, até porque o barulho atrapalha''.

O assentamento inaugurado ontem por Lula receberá parte das famílias que antes ocupavam o acampamento Lulão, que em janeiro deste ano recebeu a visita do presidente e a promessa de transformá-lo em assentamento. Na área, de 672 hectares, serão colocadas 68 famílias. O restante do grupo será alojado em outras quatro áreas da região.