Título: Temer ataca Renan e quer PMDB livre
Autor: Fernando Exman e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 29/09/2005, País, p. A5

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), expôs mais uma vez o racha que existe em seu partido, entre os que apóiam o governo federal e a ala que quer um PMDB independente do Palácio do Planalto. Temer retirou sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados e declarou apoio ao candidato oposicionista José Thomaz Nonô (PFL-AL), evitando assim se expor, após a articulação feita pelo companheiro de partido e presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (AL). E o principal alvo do discurso do presidente do PMDB foi justamente Renan, a quem Temer ironicamente chegou a chamar de ''eminentíssimo, exatíssimo, excelentíssimo'' e sugerir que não tem ética.

- Uma coisa é agir politicamente, outra é colocar a cabeça no travesseiro e sentir o peso da consciência - afirmou Temer.

Após renunciar à candidatura e declarar ''apoio explícito'' a Nonô, o presidente do PMDB disse ter certeza que seus companheiros de partido não agiriam como ''sacripantas''.

Na avaliação do deputado, o impacto de seu discurso no PMDB será o fortalecimento da ala do partido que defende um vôo solo da legenda em 2006.

- Estamos caminhando para a candidatura própria. Esse é o grande projeto do PMDB, que vamos levar adiante.

Temer foi aplaudido diversas vezes. A primeira delas ao afirmar que Renan não tinha agido de acordo com os princípios da fidelidade partidária, uma vez que o convenceu a lançar-se candidato e, horas depois, já articulava a favor do candidato da base do governo, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

O presidente do PMDB afirmou ser favorável à candidatura de Nonô, pois o pefelista já ocupa a primeira vice-presidência da Câmara. Instou que os deputados de sua legenda e de outros partidos também a votarem em Nonô e seguirem o ''fluxo natural'' da sucessão da presidência da Câmara. Temer defendeu a ''independência do Legislativo'', sugerindo que a eleição de Aldo não garantiria essa condição.

- Esta Casa não pode vergar-se ao Poder Executivo, mas também não deve hostilizá-lo. Fazer desta Casa uma sucursal, seja da Presidência do Senado Federal ou do Executivo, é a negação do texto constitucional - sublinhou o deputado.

Temer afirmou ter garantido a Nonô, no primeiro turno, 55 votos de parlamentares de seu partido. A bancada do PMDB na Câmara conta com 88 integrantes. Para o segundo turno, Temer disse ter convencido mais nove deputados a apoiarem o candidato da oposição ao governo.

O presidente do PMDB deixou claro não tolerado o comportamento do presidente do Senado.

- Fui apunhalado pelas costas. Houve uma reunião de bancada e ele (Renan) lançou o meu nome dizendo que teria condições de vitória. Eu nem queria ser candidato. Ele foi desleal ao apoiar Aldo. Agora, me vejo na obrigação de fazer o que é melhor para a Câmara - disse depois de seu discurso.

Segundo Temer, depois Renan mudou de opinião porque a base governista definiu que Aldo seria o candidato do governo. O presidente eleito da Câmara ajudou Renan a eleger-se presidente do Senado quando era o ministro da articulação política do Planalto.