Valor Econômico, v.20, n. 4927, 27/01/2020. Política p.A6

 

Gleisi diz que Dino poderá ser cabeça de chapa de aliança em 2022

 

Andrea Jubé

 

O PT prepara o ato que irá marcar seus 40 anos de fundação em fevereiro preocupado com o desempenho nas eleições municipais, mas disposto a fazer lances em relação a 2022. Reeleita presidente da sigla, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que o partido trabalha com a reedição da candidatura presidencial do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, mas vê o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), como uma alternativa.

O partido escolheu o Rio de Janeiro, reduto eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, para celebrar a data e age para desfazer a imagem de que não tem vínculos com os evangélicos.

A dirigente não considera a sigla enfraquecida após o mensalão, a Lava-Jato, a prisão de dirigentes, a deposição da presidente Dilma Rousseff e o cárcere de 580 dias de Lula. Contabiliza como sinal de força ter levado em 2018 Fernando Haddad ao segundo turno da eleição presidencial, amealhando 47 milhões de votos, ter eleito a maior bancada de deputados federais, quatro senadores e quatro governadores.

Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuar legalmente impedido de se candidatar, em função do seu enquadramento na lei da ficha limpa, Gleisi já menciona outras possibilidades.

“Haddad é o nosso nome forte, mas vamos discutir com os partidos de oposição”. Ela diz que o governador do Maranhão pode ser vice na chapa petista, ou até encabeçar a chapa. Gleisi afirma que Lula não convidou Flávio Dino para se filiar ao PT, ressalvando que o PCdoB é “nosso amigo e aliado”.

O governador reeleito do Maranhão atua para se inserir no plano nacional. Primeiro visitou o ex-presidente José Sarney, seu adversário histórico. Em dezembro, encontrou-se com o apresentador de TV Luciano Huck, despertando rumores de que seria um possível vice do presidenciável. Na última semana, reuniu-se com Lula e também com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

“Dino é uma liderança que está se colocando no cenário nacional, é preparado e está fazendo um movimento legítimo”, disse Gleisi. “Ele pode ser uma alternativa, nós o respeitamos muito, ele sempre foi muito leal à causa do presidente Lula”, completou.

A dirigente admite que Bolsonaro é o mais forte em seu campo. “Não vejo na direita ninguém, pelo menos por enquanto, com capacidade de substitui-lo”. Questionada sobre a força eleitoral de Huck, ela argumenta que ele não faz uma proposta concreta para o povo brasileiro. “O Bolsonaro tem mensagem popular, Huck vai dizer o quê? Eu sou de centro?”

Gleisi tem sido cobrada por ações mais assertivas de que o PT era capaz quando fazia oposição a Fernando Henrique. Para a dirigente, o problema é que os partidos de esquerda enfrentam uma “hegemonia de opinião”, pela qual a grande mídia seria amplamente favorável à política econômica de Bolsonaro. “Não existe opinião contrária, todo mundo está positivando a econoia", critica.

Gleisi nega que Lula tenha submergido após os primeiros discursos, em tom incisivo, quando foi libertado em novembro. Observa que desde então ele deu uma série de entrevistas e participou de atos públicos no Rio de Janeiro e, recentemente, em Minas Gerais.

O PT tem 256 prefeitos e 2.808 vereadores. Para ampliar esse número, o partido instala no próximo dia 7 o grupo de trabalho eleitoral (GTE), que será coordenado pelo deputado José Guimarães (CE), que terá os reforços de Haddad e do senador Jaques Wagner (BA).

Uma das metas principais é recuperar o eleitorado fluminense, que em 2014, foi determinante para a reeleição de Dilma e agora é feudo bolsonarista. “Vamos disputar a política no nascedouro da extrema direita do Bolsonaro, não podemos dar de barato que o Rio é base intocável dele”, avisa.

Gleisi diz que o vice-presidente do PT Washington Quaquá, ex-dirigente fluminense, defende que o PT se aproxime mais dos evangélicos. Ela argumenta que o partido sempre teve militância nesse segmento, e que inclusive elegeu duas deputadas federais: Benedita Silva (RJ) e Rejane Dias (PI).

“Temos relação com os católicos e com religiões de matriz africana. Não é porque o partido busca ter uma militância religiosa, é porque as pessoas dessas religiões que militam no partido se encontram e formam núcleos para discutir politica na perspectiva deles”, argumenta. “O Bolsonaro é diferente, ele instrumentaliza as igrejas evangélicas para formar um partido. Nunca utilizamos a religião para fazer disputa", enfatiza.

Gleisi diz que Bolsonaro levou fichas de filiação do Aliança pelo Brasil para serem preenchidas em igrejas evangélicas e que o partido estuda mover uma ação contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O PT já representou contra o Colégio de Notários no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O PT terá candidatos próprios em quase todas as capitais e nas grandes cidades. Gleisi pondera que após o fim dos programas partidários anuais e das inserções, a campanha eleitoral será o principal canal para fazer o debate político, defender Lula e o legado do partido.

O PT cogita ceder a cabeça de chapa nas disputas para as prefeituras para o deputado Marcelo Freixo (Psol) no Rio de Janeiro e para a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre.

Ela reafirma o desejo de lançar a candidatura da deputada Marília Arraes (PE) em Recife, apesar da pressão contrária do diretório municipal. Neste ponto, adianta que a palavra final sobre as candidaturas será da direção nacional do PT. Em São Paulo, com seis pré-candidatos colocados, o esforço será para buscar um entendimento. “Respeito as prévias, mas não vejo hoje grande diferença política na condução do processo de São Paulo que justificasse esse processo”.

Indagada se o PT continuará por muito tempo dependente de Lula, Gleisi diz que o ex-presidente é insubstituível. “Não é questão de dependência, é que o PT coloca nele a referência na condução de sua politica”. Ela afirma que o PT está na maioria dos municípios, tem história e enraizamento social.

 

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Lula diz que Suplicy pode surpreender

 

Em entrevista ao portal Uol, divulgada ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou com otimismo o potencial do vereador Eduardo Suplicy na disputa pela prefeitura de São Paulo como um eventual candidato do PT. “O PT não tem os grandes nomes que já teve na ativa. Tem o Suplicy que quer ser candidato. E se fizer uma pesquisa e colocar o nome do Suplicy, ele vai surpreender muita gente, porque é muito querido em São Paulo”.

O ex-presidente ainda citou os outros quatro pretendentes ao cargo dentro do partido (Jilmar Tatto, Alexandre Padilha, Carlos Zarattini e Nabil Bonduki) e frisou que a sigla deve concorrer. “O PT não se nega a fazer apoio [no segundo turno]. O que o PT não pode é deixar de ter candidato”. Lula tenta costurar um acordo interno para evitar prévias dentro da sigla.

O ex-presidente também descartou a possibilidade da sigla abrir mão da candidatura própria no Recife. “A Marília Arraes deve ser a nossa candidata”, disse, em referência à deputada federal que foi impedida pela sigla de disputar o governo estadual em 2018, em benefício do PSB. Lula também disse que o PT deve ter candidaturas próprias em Fortaleza, Natal e Salvador.

Na entrevista, o ex-presidente modulou o discurso em relação ao presidente Jair Bolsonaro. “Mesmo quem votou contra o Bolsonaro tem que saber o seguinte: ele é presidente. Vou ficar sentado na cadeira, dizendo que ele não presta e torcendo para tudo dar errado? Não. Ele tem a obrigação de governar”, disse.