Valor Econômico, v. 20, n. 4808, 06/08/2019. Política, p. A11

Bolsonaro discute com Moro mudança no Coaf

Isadora Peron
Lu Aiko Otta
Renan Truffi

 Fabio Murakawa



Em meio à indefinição sobre a troca do comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o presidente Jair Bolsonaro reuniu-se ontem com ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

O atual presidente do Coaf, Roberto Leonel, foi indicado por Moro para o cargo. Durante a transição do órgão para o Ministério da Economia, o ex-juiz da Lava-Jato acertou com o ministro Paulo Guedes que o aliado permaneceria à frente do órgão.

Guedes, no entanto, vem sendo pressionado para fazer mudanças. Pela manhã, os dois ministros também se reuniram.

Técnicos do Coaf afirmam que, até agora, não foram comunicados sobre nenhuma mudança. A expectativa, porém, é que o nome do novo presidente seja anunciado ainda esta semana.

Caso a demissão de Leonel se concretize, a mudança será um novo revés para Moro. O ex-juiz, que chegou ao governo com status de superministro, está enfraquecido e não tem conseguido impor a sua agenda de combate à corrupção.

A transferência do Coaf para a Justiça foi anunciada por Bolsonaro como uma medida para fortalecer o órgão, que antes era subordinado à área econômica.

A mudança, no entanto, foi vetada pelo Congresso, que determinou, em maio, que o conselho voltasse para o Ministério da Economia. Na ocasião, Bolsonaro assegurou que a equipe escolhida por Moro seria mantida. O argumento foi usado como apelo para que senadores do PSL desistissem de mudar o texto aprovado na Câmara, para que a da medida provisória da reforma administrativa não perdesse a validade.

No mês passado, o Coaf voltou aos holofotes depois de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, suspender investigações criminais baseadas em dados detalhados de órgãos de controle sem autorização judicial.

A decisão atendeu a um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, alvo do Ministério Público do Rio de Janeiro.

Em uma nova ofensiva contra os órgãos de controle, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou na quinta-feira a suspensão de procedimentos instalados pela Receita que atingiram integrantes da Corte.

Além de ser aliado de Moro, Leonel é considerado um elo entre o Coaf e a Receita, pois é auditor fiscal e integrou a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.