Valor Econômico, v. 20, n. 4808, 06/08/2019. Política, p. A11

Projeto bateu de frente com caso Flávio

André Guilherme Vieira



A provável queda de Roberto Leonel do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vinculado ao Ministério da Economia, é mais do que apenas outra batalha perdida pelo ministro da Justiça Sergio Moro. Trata-se da intensificação de um processo de fritura ao ex-juiz da Lava-Jato, até aqui gradual, iniciado no dia em que ele aceitou o convite para pendurar a toga e tornar-se político, feito pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro, em novembro de 2018.

O objetivo é inviabilizar eventual candidatura presidencial de Moro em 2022 - que com frequência é assediado por partido A ou B. O Podemos é um dos que mais o convidam à filiação.

Mantendo 52% de aprovação em 4 de julho, segundo o Instituto Datafolha, mesmo após a divulgação de série de reportagens que o apontam como parcial nas decisões que tomou enquanto magistrado, Moro é um adversário potencial de Bolsonaro. O presidente tem popularidade de cerca de 30% em pouco mais de seis meses de governo. Bolsonaro precisa de Moro. Por enquanto. E Moro precisa de um ministério se quiser levar adiante eventual projeto presidencial.

Auditor fiscal e chefe do Escritório de Pesquisa e Investigação Fiscal da 9ª Região durante os anos áureos da Lava-Jato de Curitiba, Leonel rastreava dinheiro da corrupção enquanto Moro, então juiz federal, sentenciava empreiteiros e políticos à prisão.

Parecia lógico que Leonel assumisse o Coaf subordinado a Moro. O órgão chegou a receber reforço em pessoal e estrutura. Acabou tomado das mãos do ministro por decisão do Congresso. Agora, Leonel e seu grupo de investigadores estão prestes a serem defenestrados do Executivo.

O projeto de espraiar o método da Lava-Jato pelo Brasil parece morto, ou na UTI. Chocou-se de frente com uma variável incapaz de ser prevista até pelo mais acurado auditor fiscal: o filho predileto de Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP), o 'Zero Um'.