O Globo, n. 32667, 14/01/2023. Política, p. 6

Câmeras mostram facilidade da invasão ao Senado

Aguirre Talento
Bruno Abbud
Eduardo Gonçalves
Gabriel Sabóia
Kathlen Barbosa
Patrick Camporez


Barras de metal, escudos, rojões, pedaços de paus, extintores de incêndio e mangueira de água foram as armas usadas por golpistas para iniciar a invasão ao Congresso e avançar sobre o efetivo limitado de policiais legislativos no último dia 8 de janeiro. Imagens das câmeras de segurança do Senado, obtidas pelo GLOBO, mostram cenas explícitas de vandalismo e depredação do patrimônio público enquanto agentes tentam, sem sucesso, conter o terrorismo sem precedentes na história do país.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSDMG), entregou ontem as imagens e as provas colhidas pela Polícia Legislativa ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para que ele apresente denúncias contra os 38 presos em flagrante pelas invasões. A invasão de golpistas se iniciou pelo Salão Negro, espaço onde ocorrem solenidades e que também serve como entrada do Senado. Três seguranças observam os manifestantes subirem a rampa do Congresso. Quando as primeiras vidraças começam a ser quebradas, eles correm para se proteger da violência dos invasores.

Para terminar de estraçalhar as vidraças, os manifestantes utilizam uma barra de metal e um carrinho. O primeiro invasor que aparece no vídeo segura um guarda-chuva e veste uma bandeira da seleção. Depois dele, dezenas de pessoas entram no local, a maioria usando verde e amarelo. Um encapuzado se aproxima e lança um rojão lá dentro.

A Polícia Legislativa do Senado contava, inicialmente, com 20 policiais em seu efetivo de plantão naquele domingo. Outros que estavam de folga foram convocados depois que foi constatada a gravidade dos fatos, chegando a um total de 60 policiais atuando para conter os manifestantes.

À medida que avançam, eles rompem o caminho até o Salão Azul, local que dá acesso a áreas estratégicas como o plenário e a Presidência. Uma fileira de nove policiais legislativos com escudos e capacetes forma uma barreira para conter os terroristas. Diante do avanço dos invasores, os policiais soltam bombas de gás e spray de pimenta, mas acabam sendo obrigados a recuar.

Com isso, os terroristas tomam conta da entrada do Salão Azul e começam a quebrar tudo que veem pela frente. Também usam uma mangueira para alagar o local.

Seguindo na invasão, os golpistas avançam com paus, barras de ferro e outras armas. Chegam na área conhecida como Praça das Bandeiras, enquanto os policiais recuam. Com essas armas, eles continuam o quebra-quebra, destruindo até mesmo um vaso de flores que orna o interior do Senado.

Alguns deles vestem equipamentos que foram abandonados pelas forças de segurança, como capacete, colete e escudos. Um dos golpistas tenta manipular a mangueira de incêndio. Outro espalha os destroços do vaso quebrado sobre o tapete azul para usá-los como armas cortantes. Também quebram as janelas de vidro.

De lá, os terroristas invadem o plenário e continuam a depredação. Os policiais legislativos montam uma barreira na área próxima e conseguem entrar no plenário para prender em flagrante 38 invasores que estavam no local.

Carpete urinado

Um relatório feito pela Diretoria-Geral do Senado estima um prazo mínimo de 40 dias para os reparos dos danos materiais na Casa. O mau-cheiro ainda está impregnado no prédio. O imenso carpete do Salão Azul e tapeçarias históricas foram molhadas com água e urina. As marcas dos vândalos também ficaram expostas nos quadros de ex-presidentes da Casa. Os retratos de José Sarney, Renan Calheiros e Ramez Tebet, em pintura a óleo e dispostos no Salão Nobre, foram rasgados e quebrados.

O valor total dos danos que puderam ser estimados é de R$ 3,5 milhões, segundo levantamento feito no dia seguinte aos ataques. O custo real dos ataques que destruíram móveis históricos e obras de arte, porém, é tratado como “inestimável” pela perícia.