Valor Econômico, v. 20, n. 4809, 07/08/2019. Brasil, p. A7

Sistema de monitoramento do Inpe aponta alta nos alertas de desmate

Daniela Chiaretti



Os alertas de desmatamento da Amazônia cresceram 278% em julho ante o mesmo mês de 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Técnicos que acompanham o assunto consideram que a comparação mês a mês não é a mais adequada. Pode levar a imprecisões se, por exemplo, as imagens de satélite forem capturadas em dias com nuvens. O ideal é comparar períodos maiores. Contudo, o pulso do desmatamento da Amazônia em 2019 revela tendência de alta.

Os dados são do Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), sistema do Inpe que indica aos fiscais do Ibama e dos órgãos de fiscalização estaduais onde o desmate está ocorrendo. A ideia do monitoramento é acelerar ações de controle.

Os alertas do Deter indicam uma área de desmatamento de 2.254,8 km2 em julho de 2019.

O número oficial do Inpe para medir a taxa anual de desmatamento por corte raso na Amazônia Legal é fornecido, desde 1988, pelo projeto Prodes que trabalha com imagens de melhor resolução. Este dado consolidado é publicado apenas uma vez por ano.

"Dados de alerta do Inpe, do Imazon e de vários outros institutos independentes e diferentes mostram claramente que julho foi um mês com aumento enorme no número de queimadas e desmatamento comparado com o mesmo mês do ano passado", diz o físico Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

"Isso está ocorrendo sem que tenha havido qualquer perturbação climática. Não houve uma grande seca, este não é um ano de El Niño", segue Artaxo, que é membro do IPCC, o painel científico da ONU. "Este aumento do desmatamento é devido a atividades ilegais de áreas de mineração, ocupação ilegal de terras indígenas, ocupação ilegal de terras do Estado que estão sendo inclusive incentivadas pelo atual governo."

Em junho deste ano, o Deter apontou crescimento de 88% nos alertas ante junho de 2018.

A tendência é confirmada por outro sistema de monitoramento, o Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon (SAD) do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). O SAD também indica alertas mensais de desmatamento da Amazônia. "Nossos dados também apontam tendência de alta no desmatamento", diz Carlos Souza Júnior, pesquisador associado do Imazon. "O nosso sistema mostra um aumento de 4% no acumulado de agosto (2018) a junho (2019)." O maior problema com o desmatamento da Amazônia hoje é a falta de fiscalização, e não de monitoramento.

Os dados do Deter que apontam para o crescimento da destruição na Amazônia abriram uma crise entre o Inpe e o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que culminou com a exoneração, na sexta-feira, do diretor do instituto, Ricardo Galvão. Bolsonaro afirmou que Galvão poderia estar a "serviço de alguma ONG". Galvão defendeu os dados de desmate do instituto e respondeu aos ataques do presidente