Título: Tensão permanece mesmo depois da eleição
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 30/09/2005, País, p. A3

Os rumores, especulações e suspeitas de acordão levantados pela oposição após a vitória de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para presidência da Câmara mostram que o clima de disputa da eleição vai demorar a se esvair. Eleito com uma margem de apenas 15 votos em relação ao pefelista José Thomaz Nonô (AL), Aldo afirmou não ver problemas em conduzir as sessões de cassação de parlamentares envolvidos com o suposto mensalão.

- O fundamental é a isenção, o equilíbrio e o critério de justiça - resumiu Aldo.

Aldo não se sente impedido de presidir a sessão do suposto pedido de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP) pelo fato de ter sido testemunha de defesa do petista no Conselho de Ética.

- Qualquer integrante da Casa, especialmente da Mesa Diretora, tem condição de julgar seus pares - acrescentou.

O presidente da Câmara tampouco demonstrou desconforto com a esfuziante comemoração dos parlamentares ameaçados de cassação, após a confirmação de que Aldo havia sido eleito. Para justificar a atitude, recorreu à política de alianças que permitiram sua vitória.

- É evidente que os partidos e os integrantes de partidos que tiveram candidatos vitoriosos comemorem, isso é natural - ponderou o novo presidente.

O tom de confronto já havia surgido pela manhã, na primeira reunião de líderes convocada por Aldo para discutir a reforma política. O encontro mal havia começado, quando o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), mostrou os dentes, afirmando que seu partido era contra a redução de cláusula de barreira de 5% para 2%, uma das promessas dos governistas durante a campanha de sucessão de Severino Cavalcanti.

Quando a palavra foi dada ao líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), veio troco.

- Quero que o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), diga aqui, perante todos, que história é essa de que Aldo foi eleito com o apoio dos mensaleiros da Câmara - cobrou.

A mesma crítica incisiva foi feita pelo líder do PT na Casa, Henrique Fontana (RS). Goldman acabou não se explicando perante os demais líderes partidários. Teve, no entanto, a solidariedade do líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

- Esse tipo de questionamento não deve ser feito numa reunião de líderes. Isso é assunto para plenário. Se eles se sentiram ofendidos, que se defendessem no plenário - rebateu Maia.

O líder pefelista reconheceu que o Planalto terá dificuldades em aprovar as medidas na Câmara. Ainda provocou os governistas afirmando que cabe ao governo colocar em plenário a pretensa maioria. O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), ironizou.

- Engraçado. A oposição sempre é mais nervosa aqui fora (no Salão Verde, onde são concedidas as entrevistas) do que lá dentro - provocou.

Aldo Rebelo também fez uma peregrinação pelo Palácio do Planalto, para visitar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no Supremo Tribunal Federal, para encontrar-se com o ministro Nelson Jobim. No STF, negou que tenha ido fazer uma consulta sobre a emenda constitucional que prorroga os prazos para alteração nas regras de reforma política. Sobre a audiência com Lula, Aldo foi mais lacônico ainda. Disse que falaram sobre política e futebol.

- Palmeiras e Corinthians, como sempre - emendou.

Colaborou Luiz Orlando Carneiro