Valor Econômico, v. 20, n. 4887, 26/11/2019. Brasil, p. A2

Mudança levou a juro baixo e dólar mais alto, diz Guedes

Paola de Orte 


O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem em Washington que a mudança da política econômica realizada pelo governo Jair Bolsonaro mudou o juro de equilíbrio no país, mas altera, em contrapartida, o patamar do câmbio. Em clima tenso, o ministro afirmou ainda que é irresponsabilidade convocar o povo para a rua, como fez a esquerda: “Não se assustem então se alguém pedir o AI-5”.

No fim de outubro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, criou polêmica ao falar sobre a possibilidade de edição de um novo AI-5 (Ato Institucional nº 5) para conter o que chamou de “radicalização da esquerda”.

Após a declaração, Guedes disse a jornalistas que a fala dele sobre o AI-5 seria interpretada de modo errado: “Eu sou economista, não tenho que entrar em discussão política”. Ainda falando a jornalistas, ele disse que “usem a consciência, porque vai ter uma hora que alguém perde a cabeça em algum lugar”.

Sobre a Selic, Guedes disse que “o juro baixou, está em 5%, 6% [ao ano]. Em compensação, o câmbio está em patamar mais alto”. “Quando você tem política fiscal mais forte e juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio é mais alto. Então que o câmbio esteja em torno de R$ 4, R$ 4 e pouco, subindo, é normal quando a gente troca o ‘mix’”, afirmou o ministro depois de participar de evento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “O Brasil é agora um país de juros mais baixos e câmbio um pouco mais alto. Esse é o movimento. ”

Guedes disse não considerar relevante a mudança de patamar do câmbio. “Eu não estou preocupado com a alta do dólar. Ao contrário. Eu achei um desenvolvimento interessante e absolutamente compreensível”, defendeu. Segundo ele, o país tem agora uma moeda forte, caminhando para a conversibilidade.

“Quando você pega os juros e bota os juros reais no Brasil, estão abaixo de 2%”, disse. “A inflação está descendo, descendo. Aí os juros vieram descendo juntos. O Brasil é agora um país interessante. Com o juro bastante baixo, os investimentos vão começar. Vai retomar o crescimento. ”

Guedes disse também que, dentro do novo pacto federativo que será firmado, “o dinheiro deve estar onde as pessoas estão. Hoje, o dinheiro fica em Brasília”. O ministro repetiu sua frase recorrente de quase todas as suas apresentações: “Nosso plano é mais no Brasil, menos em Brasília. ”

Segundo ele, o Brasil hoje é o quarto maior destino de investimento estrangeiro no mundo. “Eu tenho conversado com os investidores do setor real, todos planejando expansão. Turma que vai produzir gasodutos para fazer choque da revolução da energia barata, turma que está investindo em mineração, turma que está vindo para fazer infraestrutura. ”

Em evento organizado pelo BID para apresentar o relatório “Desenvolvimento nas Américas” deste ano, o ministro da Economia elencou uma série de “capítulos” [pontos] como tarefas para construir um novo framework [estrutura] institucional do país. “[Esse] capítulo 3 é a descentralização dos recursos do futuro, o novo Pacto Federativo”, explicou ele, para pouco depois citar como quarto item a desindexação do Orçamento e como quinto capítulo a reforma tributária. “[O] Congresso está nos ajudando. Estamos construindo a reforma juntos. É maravilhoso, um ambiente muito construtivo”, disse Guedes.

Guedes participou do Fórum de CEO’s Brasil-Estados Unidos, principal motivo de sua viagem a Washington. O encontro reúne dez altos executivos brasileiros e dez altos executivos americanos para debater temas de interesse do setor privado dos dois países.

Durante o encontro, foi anunciado que Brasil e Estados Unidos vão iniciar em breve a fase de testes do Global Entry, o programa de entrada rápida do governo americano.