Valor Econômico, v.20, n. 4930, 30/01/2020. Política p.A10

 

Moro afirma que clima com presidente está ‘tranquilo’


Bolsonaro e ministro encontraram-se ontem pela primeira vez depois da proposta de dividir pasta da Justiça

Isadora Peron

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, encontraram-se ontem pela primeira vez depois da crise que envolveu a proposta de dividir em duas a pasta ocupada pelo ex-juiz da Operação Lava-Jato - medida que retiraria atribuições de Moro, como o comando da Polícia Federal (PF).

Após o encontro, Moro disse a interlocutores que o clima entre ele e o presidente está “tranquilo” e que a reunião serviu para tratar de “assuntos do governo”. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também participou.

Enquanto estavam no Palácio do Planalto, os dois ministros foram apresentados à atriz Regina Duarte, que aceitou o convite para assumir a Secretaria Especial de Cultura (ver acima).

A ideia de recriar o Ministério da Segurança Pública foi aventada na semana passada por Bolsonaro, após encontro com secretários estaduais da área. A ideia levou aliados de Moro a reagir, pois a medida enfraqueceria a pasta hoje dirigida pelo ex-juiz.

No início da semana, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, Moro disse que esse era um “assunto encerrado”.

Ontem, Moro cumpriu agenda pela manhã, e lamentou o resultado divulgado na semana passada pela Transparência Internacional, que mostrou uma piora no índice de percepção do combate à corrupção no país no primeiro ano do governo Bolsonaro - o Brasil ficou em 106ª no ranking.

Segundo o ministro, “apesar de todos os esforços, é triste ver que a percepção não mudou”.

Moro afirmou que, nos últimos anos, o Brasil tem realizado um grande trabalho de combate à corrupção. Ele citou os resultados da Lava-Jato e o fato de Bolsonaro ter rompido com a lógica das indicações político-partidárias para os ministérios.

“Isso explica a minha presença no ministério”, disse. “Ele [Bolsonaro] rompeu com uma prática que, a meu ver, se deturpou com o tempo, que é o loteamento político-partidário das altas posições da administração pública. Não que as indicações políticas sejam um mal em si, mas elas foram utilizadas no passado para fins de enriquecimento ilícito e financiamento ilegal de partidos políticos.”