Título: Poupança perde para consumo
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/09/2005, Economia & Negócios, p. A19
O consumo das famílias e do governo cresceu num ritmo duas vezes maior que o da poupança no segundo trimestre. Sem descontar a inflação, os gastos dos brasileiros cresceram 12% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a poupança avançou apenas 6%. Já os investimentos em produção e construção civil, carro-chefe da economia neste ano, dispararam 16%, bem acima do crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas pelo país), de 10%, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores de mercado, o país produziu, no período, R$ 918,6 bilhões.
O crescimento do consumo do governo, em 1,1%, superou o aumento das despesas das famílias, que avançou 0,9%. O avanço do consumo nas duas esferas teve influência direta no comportamento da poupança, que se expandiu menos, somando R$ 213,2 bilhões. Com isso, a taxa de poupança - calculada pela renda nacional, menos o consumo total - representou 24% do PIB, o segundo maior resultado desde 1995. Em 2004, a poupança equivaleu a 25% do PIB. A taxa de poupança serve como parâmetro da capacidade de investimento porque representa os recursos disponíveis para aplicação nos mercados interno e externo.
- A poupança diminuiu porque o país consumiu mais - frisa a economista do IBGE Cláudia Dionísio.
O aumento do consumo também foi um dos motivos que levaram à redução da capacidade de financiamento do país, de R$ 9,6 bilhões no segundo trimestre de 2004 para R$ 5,9 bilhões no segundo trimestre deste ano. Mas foi a disparada das remessas de lucros, juros e capital que mais esvaziou as contas externas no semestre. O envio de lucros e dividendos das filiais para as matrizes estrangeiras cresceu 50% neste período, de R$ 10,7 milhões para R$ 15,5 milhões, em relação ao mesmo período de 2004.
No segundo trimestre deste ano, a remessa de lucros e dividendos superou o pagamento de juros no exterior. O que acontece historicamente é o contrário: o país sempre enviou mais divisas em forma de juros. A reviravolta acontece porque os investimentos externos realizados no período de privatizações maturaram, com retornos crescentes.
O aumento das importações também impactou a capacidade do Brasil de emprestar recursos para o exterior.
Apesar do bom desempenho no segundo trimestre, o Banco Central divulgou, no Relatório de Inflação, que manterá a projeção de crescimento do PIB para o ano em 3,4%. Segundo o diretor de política econômica do BC, Afonso Bevilaqua, a atividade econômica continuará com processo de crescimento nos próximos trimestres, mas em ritmo menor em relação aos anteriores.
- Nós não imaginamos que nesses próximos trimestres haja um crescimento tão elevado quanto vimos no segundo trimestre desse ano. Mas esperamos que a economia continue crescendo.
A projeção de crescimento para a agropecuária foi revista de 4% para 3,6%. Já no setor industrial, a expectativa foi elevada de 3,7% para 4,4%, puxado, principalmente, pelo setor de extração de petróleo, com a entrada em funcionamento de novas plataformas. Já o setor de serviços sofreu redução de 0,3 ponto percentual, para 2,4% na estimativa, influenciado pelos ajustamentos baseados nos resultados do segundo trimestre, nos segmentos de comunicações, aluguéis, instituições financeiras e outros serviços.