Correio Braziliense, n. 21718, 02/08/2022. Negócios, p. 8

Vale tudo para garantir R$ 600

Henrique Lessa
Fernanda Strickland


São Paulo e Brasília — O ministro da economia, Paulo Guedes, disse ontem, em evento com empresários, em São Paulo, que o Auxílio Brasil de R$ 600 será pago de uma forma ou de outra no próximo ano. Segundo o ministro, o Projeto da Lei Orçamentária Anual (Ploa), encaminhado na quarta-feira ao Congresso, não poderia prever o benefício no valor prometido por não ter fonte de recursos. Por isso, a previsão foi de um valor de R$ 405. Mas o governo espera a aprovação de uma parte da reforma tributária, que taxará lucros e dividendos superiores a R$ 400 mil por mês.

Guedes ressaltou para a plateia, composta, majoritariamente, por apoiadores do atual governo, que o empresário que tiver lucros e dividendos de R$ 500 mil, pagaria IR apenas sobre o excedente ao limite. Alternativamente, no caso de não aprovação do projeto pelo Congresso, resolve-se o problema com a decretação de estado de calamidade, afirmou.

O ministro fez questão de dizer que foi o criador do Auxílio Emergencial durante o período da pandemia. Lembrou que o benefício só saiu do ministério com o valor de R$ 200 “por um imperativo moral, eu precisava pagar o mesmo que pagava o Bolsa Família”, mas que foi o presidente Jair Bolsonaro (PL) quem ordenou, depois, subir para R$ 600.

Durante o evento, o ministro comemorou o crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Guedes afirmou que o mercado financeiro foi pessimista em relação ao desempenho econômico do país e, por isso, está tendo que rever as projeções constantemente. E sustentou que não há bombas fiscais armadas para explodir no próximo ano, e que o Brasil nunca esteve tão bem em termos fiscais.

Relator critica

O senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do Orçamento de 2023, criticou a falta de indicação de recursos para o Auxílio Brasil na proposta orçamentária. Segundo ele, o governo precisa sair do discurso ao prometer manter o benefício em R$ 600 e partir para a prática. “Nossa expectativa é que ele tivesse mandado uma proposta dando o reajuste. Senão, fica parecendo discurso de candidato. O que o impede de propor?”, questionou Castro.

O senador prometeu ainda reavaliar os reajustes salariais previstos na proposta. Para ele, não tem sentido os servidores do Judiciário terem aumento de 18% e os do Executivo, menos de 5%. Para Castro, os servidores do Judiciário e Legislativo já ganham melhores salários. “Nosso objetivo é aprofundar na análise para que o servidor do Executivo, que ganha menos, possa ter um reajuste próximo do Judiciário e do Legislativo, de 9% no próximo ano”, adiantou.

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