Título: Risco afastado, remédio mantido
Autor: Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 30/09/2005, Economia & Negócios, p. A21
Depois de prever que a inflação anual ficará abaixo da meta, na semana passada, o Banco Central cravou ontem sua aposta para o indicador em 5% - 0,1 ponto percentual abaixo do centro do alvo. O dado consta do Relatório trimestral de Inflação. A autoridade monetária, porém, indica que manterá os juros em patamar elevado.
O relatório anterior, de junho, previa que o resultado oficial medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficaria em 5,8%. Já o mercado financeiro estimou, semana passada, que o indicador registraria 5,2%, conforme divulgado no Boletim Focus na última sexta-feira.
A nova projeção leva em conta uma taxa básica de juros em 19,50% ao ano e uma taxa de câmbio próxima ao patamar de R$ 2,35. A autoridade monetária também reduziu a projeção para a inflação em 2006, passando de 3,7% para 3,5%.
O BC levou em conta os resultados da inflação de 2005, tidos como favoráveis. No caso de 2006, a redução deveu-se à diferença na trajetória esperada para a taxa de câmbio, que passou de R$ 2,47 para R$ 2,35.
Mesmo que a projeção tenha ficado abaixo dos 5,1%, o Banco Central deve continuar perseguindo a meta estabelecida para esse ano. O diretor de política econômica do BC, Afonso Bevilaqua, ressaltou que nunca houve mudança do objetivo de 5,1% e que, se houvesse alguma alteração, estaria explicitada na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que é divulgada todo mês após a definição da Selic.
- Tudo o que temos a dizer com relação ao assunto está na ata (do Copom) de setembro. Por que se mudaria o objetivo de política monetária, no final do terceiro trimestre? Faz pouco sentido. O que é relevante é a ata de setembro, que mostra claramente a nossa visão sobre os 5,1%.
Bevilaqua se referiu, ainda, à influência de fatores como o recuo do dólar e dos alimentos.
- Parcela da melhora se deve a fatores pontuais, que devem se reverter no médio prazo. Ainda assim, o que se observa é uma tendência positiva para a inflação - afirmou Bevilaqua.
A vitória sobre a inflação ganhou ontem mais um capítulo. Pelo quinto mês consecutivo, o IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado) registrou deflação, dessa vez de 0,53% em setembro. A queda dos preços, no entanto, foi menos intensa do que a do mês anterior, de 0,65%. O IGP-M corrige a maioria dos contratos de aluguel. O índice acumula alta de 0,21% no ano e de 2,17% nos últimos 12 meses.
No campo externo, o BC estima que o saldo comercial deverá encolher em 2006. Dos US$ 38 bilhões previstos para este ano, o resultado na balança comercial cairá para US$ 29 bilhões, devido à alta de 21% das importações.