Valor Econômico, v. 20, n. 4888, 27/11/2019. Especial, p. A16

Gigante da energia da energia solar, Yingli está insolvente



Entrar no parque industrial de Yingli em Baoding é como voltar no tempo. Os funcionários usam um macacão azul-marinho escuro com o sol, que é o logotipo da Yingli, em um ombro e uma bandeira chinesa no outro, o que dá ao local uma sensação comunitária. Em frente ao pátio de montagem está um grande palco decorado em homenagem ao 70º aniversário da fundação da República Popular da China, coberto de slogans como “lembre-se de sua missão” e “ajudem uns aos outros”.

Os problemas da empresa começaram há ao menos cinco anos, quando o aumento dos níveis da dívida se somaram à forte queda nos preços dos painéis solares. Sua situação financeira desesperadora ficou evidente em maio de 2016, quando a Yingli não conseguiu fazer o pagamento de um empréstimo de US$ 270 milhões. Desde então, as discussões com os credores, dos quais o maior é o Banco de Desenvolvimento da China, não conseguiram chegar a um acordo. Os acionistas temem o pior: as ações da Yingli nas “pink sheets” (folhas rosas, em inglês) - o mercado de balcão para empresas não listadas em uma grande bolsa de valores - estão sendo negociadas a apenas 15 centavos de dólar por ação. O corte nos subsídios do governo para projetos de energia solar apenas agravou as dificuldades.

Miao Liansheng, o fundador que iniciou sua carreira no exército antes de se tornar um empreendedor, já foi classificado entre os indivíduos mais ricos da China. Miao mora nas instalações da Yingli, e os funcionários dizem que ele ainda faz aparições diárias para conversar com os trabalhadores.

Mas a empresa, que já teve cerca de 20 mil funcionários, tem hoje pouco mais de 6 mil, segundo o vice-gerente geral, Vincent Yu. Muitas das linhas de produção da fábrica estão silenciosas. Não é óbvio se algumas estão paradas para manutenção ou se estão ociosas. Este ano, segundo Yu, a fábrica produzirá painéis solares com capacidade de 2,5 GW a 3, equivalendo a cerca de 3% da demanda global.

Por uma década atrás, o apoio estatal da China aos fabricantes de painéis solares levou a um excesso de capacidade e a guerras de preços ferozes. Isso derrubou o preço dos painéis solares - para benefício do resto do mundo - mas significou margens extremamente apertadas, ou negativas, para os fabricantes chineses.