Valor Econômico, v. 20, n. 4889, 28/11/2019. Política, p. A14

“Índios não merecem viver na pré-história”

Liege Albuquerque 


O presidente Jair Bolsonaro participou ontem da abertura da I Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus (fesPIM), na zona sul da capital amazonense. Em discurso, o presidente destacou que, depois que o projeto Calha Norte (governo Sarney) foi abandonado por governos, “a ZFM é a grande responsável pela floresta em pé”. As indústrias da Zona Franca de Manaus se concentram num bairro na área urbana de Manaus e não no interior.

Segundo dados divulgados este mês pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área desmatada na Amazônia foi de 9.762 km² entre agosto de 2018 e julho de 2019, a maior área desmatada nos últimos dez anos. O Amazonas teve desmatamento 36% superior a 2018.

Foi a segunda vez que o presidente da República visita à capital amazonense desde a posse. Ontem à noite, Bolsonaro foi homenageado em um culto em templo da Assembleia de Deus, quando afirmou que “em breve” vai indicar um ministro evangélico ao Supremo Tribunal

Federal (STF). “Nossos irmãos índios querem se integrar ao Brasil, o índio quer produzir, quer explorar a terra. É terra rica em minérios e querem explorar. Querem criar gado e tem legislação impedindo. Agora consegui rever [legislação que proibia] a plantação da cana-de-açúcar e todos na região agradeceram. E se os ambientalistas atuais querem me criticar é porque estou no caminho certo”, disse Bolsonaro na feira de sustentabilidade.

Em coletiva após a abertura da feira, ao ser questionado pelo Valor se ao falar retoricamente sobre liberar a exploração das terras indígenas aos “irmãos índios” não estaria se referindo a grandes empresas de mineração, já que indígenas não têm tecnologia para exploração de terras, Bolsonaro respondeu “ser uma pergunta da imprensa maldosa”. “Esse é um desejo meu, de liberar a exploração, que eles não merecem viver na miséria, na pré-história. Mas tudo tem de passar pelo Parlamento, não pode ficar no desejo meu de não ver nossos irmãos nessas condições. ”

Em seguida, o presidente respondeu a um repórter que ele “deveria voltar à faculdade” antes de fazer pergunta. A outro jornalista disse que não responderia mais nenhuma pergunta daquele jornal. Perguntado sobre a denúncia de que não teria declarado o suposto uso de 11 milhões de santinhos em sua campanha eleitoral, Bolsonaro disse que sua resposta só podia ser uma gargalhada.