Título: Jogo pesado para ganhar o poder
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 28/09/2005, País, p. A3

O Planalto manobrou pesado ontem, conseguiu isolar a candidatura de Ciro Nogueira (PP-PI) e praticamente garantiu a presença de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no segundo turno das eleições para a presidência da Câmara. O governo negociou o apoio do PL em troca de verbas para o Ministério dos Transportes e obteve a garantia de que o petebista Luiz Antônio Fleury Filho (SP) não abriria mão de sua candidatura. Com isso, Ciro ficou sem margem de alianças. O PFL de José Thomaz Nonô (AL), possível adversário de Aldo, também movimentou-se rápido, ratificou o apoio do PSDB e ainda foi turbinado pela confirmação de votos do PPS, PDT, PV e Prona. Como a votação é secreta, e os acertos políticos foram fechados pelas cúpulas dos partidos, parlamentares como Ciro ainda contam com as ''traições''. Mesmo assim, o comando de campanha do PP admite que, com o cenário mais difícil, a tendência é o partido apoiar Aldo num segundo turno contra Nonô.

O Planalto acordou cedo para empenhar-se por Aldo. Às 9h30 da manhã, Fleury foi convidado para um café com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais ouviu do que falou. O petebista afirmou que recebera o apoio do ''Câmara forte'', comandado pelo petista Virgílio Guimarães (MG) e que ficava difícil retirar a sua candidatura.

- O presidente foi muito elegante. Mas não há dúvidas de que ele está acompanhando esse processo - ponderou Fleury.

Às 11 horas, o líder Sandro Mabel (PL-GO), o presidente do partido, Valdemar Costa Neto (SP), e o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, foram chamados para uma conversa com o coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner. Como Inocêncio Oliveira (PL-PE) já tinha avisado que não sairia candidato e a legenda não topava manter o apoio a João Caldas (PL-AL), o acerto com o Planalto ficou fácil.

- O ministro nos pediu apoio a Aldo, em busca da estabilidade política na Casa. Nós não pedimos nada demais. Apenas condições para que o nosso ministério, dos Transportes, tenha condições financeiras de tocar as obras nas estradas do país - resumiu Mabel.

Fechado o acordo com o Planalto, os liberais começaram a entrar em contato com os demais candidatos. Valdemar ligou para o candidato do PMDB à presidência, Michel Temer (SP). Elogiou o peemedebista e a sua capacidade de articulação. Mas descartou aliança.

- Estávamos meio afastados do Planalto, tivemos uma conversa hoje (ontem), muito proveitosa. Vamos fechar com Aldo - emendou Valdemar, de acordo com relato do próprio Temer.

Pouco depois, Caldas corria para a presidência do PMDB, chorar suas mágoas e garantir que não aceitava acordos em troca de cargos ou emendas. Afirmou que seria candidato, mesmo que a legenda não o apoiasse. Foi obrigado a desistir.

- Se o PL tivesse candidato, seria o Inocêncio. O João Caldas era candidato de si próprio - emendou o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.

No caso do PTB, a decisão de Fleury em manter sua candidatura foi boa para os dois lados - tanto para a legenda quanto para o governo. No caso do Planalto, a permanência de Fleury na disputa serve como um anteparo às alianças políticas do PP, como reconhecem os aliados de Ciro. No caso do PTB, Fleury pode representar a unidade da legenda neste momento conturbado.