Título: O julgamento do macaco
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/09/2005, Internacional, p. A8

Os evolucionistas dizem que nós descendemos dos macacos. E não não são nem de macacos americanos. São macacos do Velho Mundo! A declaração acima não foi feita na Pensilvânia, mas em Dayton, Tennessee, em julho de 1925, quando o ensino da teoria de Darwin era proibido por lei no Estado. O autor foi o advogado William Jennings Bryan. Naquele ano, o Tennessee acabara de aprovar uma lei proibindo ¿ensinar qualquer teoria que negue a história da criação divina que está na Bíblia e sugira que o homem descenda de uma classe inferior de animais¿.

O professor John Scopes, de 24 anos, não concordava. E, depois de pasar um tempo em casa doente, lendo livros evolucionistas, voltou para a escola e decidiu passar os princípios darwinistas para seus alunos. Acabou processado e condenado a pagar multa de US$ 100.

O caso, que ficou conhecido nos Estados Unidos como ¿O Julgamento do Macaco¿, mexeu com a opinião pública e transformou a cidade num circo. Literalmente. À certa altura, segundo relatos da época, foram levados macacos para a porta do tribunal. Também foi o primeiro transmitido ao vivo por rádio no país.

A primeira sessão foi assistida por 1.300 pessoas, 300 delas em pé. De um lado, Bryan, candidato a presidente derrotado três vezes, líder da cruzada que banira o evolucionismo das salas de aula em 16 estados até aquele ano. Do outro, Clarence Darrow, que quase foi rejeitado pela União Americana para Liberdades Civis por ser agnóstico. Temia-se que radicalizasse no ataque à religião durante a defesa, o que colocaria a opinião pública dos Estados Unidos irremediavelmente contra Scopes.

Foram os dois velhos advogados que protagonizaram o que o jornal The New York Times descreveu na época como ¿a mais sensacional cena de tribunal de todos os tempos¿.

No sétimo dia de julgamento, Darrow, que defendeu Scopes, convenceu Bryan a testemunhar como especialista em assuntos bíblicos. E começou uma série de perguntas com a intenção de levá-lo a dizer em juízo que não se pode interpretar a Bíblia literalmente. Acabou conseguindo quando pediu que seu adversário descrevesse a baleia que engoliu Jonas; o dilúvio, Noé e sua arca; a tentação de Adão no paraíso. Por fim, o advogado de acusação, já confuso, soltou um desabafo que o ridicularizou diante da platéia.

¿ Eu não penso nas coisas sobre as quais eu não penso ¿ afirmou Bryan.