Valor Econômico, v. 20, n. 4848, 01/10/2019. Política, p. A8

Bolsonaro hesita em tirar Bezerra e teme irritar MDB
Fabio Murakawa
Renan Truffi


Com o presidente Jair Bolsonaro hesitante em retirar Fernando Bezerra (MDB-PE) do posto de líder do governo no Senado, o Palácio do Planalto estuda contemplar o partido com mais uma cadeira na Esplanada dos Ministérios. Envolvido em denúncias de corrupção, Bezerra é tido por Bolsonaro como um articulador hábil e sua saída seria considerada uma baixa importante.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, uma solução para agradar a maior bancada do Senado será entregar ao MDB o Ministério do Desenvolvimento Regional, atualmente ocupado por Gustavo Canuto, em uma minirreforma ministerial que deve ocorrer nos próximos meses. Essa operação, no entanto, será feita de maneira a sustentar o discurso de Bolsonaro de que ele não governa entregando cargos aos partidos em troca de apoio.

O possível indicado do MDB seria apresentado como “cota pessoal” do presidente, assim como já ocorre com Osmar Terra, ministro da Cidadania, e que tem mandato como deputado federal pelo MDB gaúcho.

Uma outra hipótese mencionada por emedebistas no Senado seria a indicação de Eduardo Braga (MDB-AM) para o Ministério de Minas e Energia, cargo que há ocupou na gestão Dilma Rousseff.

O momento mais propício para uma eventual substituição de Bezerra seria após a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência, matéria na qual o líder atua como principal articulador.

Auxiliares de Bolsonaro admitem ser importante não desagradar o MDB no Senado, onde tramitam matérias de interesse do governo e do presidente - como a reforma da Previdência e a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, para o cargo de embaixador nos EUA.

Nos corredores do Senado, desponta o nome de Marcos Rogério (DEM- RO) como possível substituto de Bezerra na liderança. O senador por Rondônia, porém, tem se recusado participar ativamente de uma articulação por respeito a Bezerra, segundo interlocutores.

No MDB, a avaliação é que o governo sairá perdendo sem a liderança de Bezerra, já que ele é tido como um dos articuladores mais habilidosos trabalhando em favor do Planalto no Congresso.

Além disso, alguns emedebistas duvidam que da capacidade de Bolsonaro para encontrar um substituto à altura do senador pernambucano, o que é considerado na Casa um fator decisivo para uma eventual substituição.

Ainda assim, os dirigentes da sigla rejeitam que sua demissão implicaria em perda de espaço da legenda na gestão Bolsonaro. Pelo contrário, os emedebistas insistem que Bezerra Coelho é “cota pessoal” do presidente e não foi uma indicação oficial do direção nacional da legenda.

Senadores governistas têm evitado se envolver diretamente no caso. Um fiel aliado do presidente Jair Bolsonaro viu com ressalvas o discurso de defesa de Bezerra durante sessão do Congresso na semana passada, após ter sido alvo de operação de busca e apreensão em sua casa.

Segundo este interlocutor, o emedebista criticou o açodamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal no episódio, mas gastou pouca saliva para se defender das acusações.

Por conta disso, alguns parlamentares que trabalham pelo governo têm defendido que Bezerra terá de fazer uma nova avaliação da própria situação por conta de fatos que continuam vindo à tona com a divulgação dos detalhes da delação do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro. “É ruim para o governo manter um esqueleto desse no armário”, analisou uma fonte.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou ontem em seu briefing diário com jornalistas que Bolsonaro não comentaria as denúncias contra Bezerra. Mas disse que o presidente vem acompanhando a situação de Bezerra e revelou que eles devem se encontrar nesta semana.

“O nosso presidente tem acompanhado a situação, inclusive com conversas telefônicas”, afirmou Rêgo Barros. “E me relatou que nos próximos dias receberá pessoalmente o senador Fernando Bezerra para conversas específicas relativas à liderança desempenhada pelo senador junto ao Senado.”