Título: CNI revê crescimento para 3,5% este ano
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 28/09/2005, Economia & Negócios, p. A20

Baseada mais em esperança do que em cálculos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta para o fim deste ano uma taxa de juros (Selic) de 17,5% ao ano. Para alcançar esse patamar, o Banco Central teria que reduzir a taxa em 2 pontos percentuais em três meses, cortes superiores a 0,5 ponto em cada uma das três reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que faltam até o fim do ano. Na média anual, a Selic deve ficar em 19,1% neste ano, segundo a entidade.

Para o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, há espaço para cortes mais elevados do que o previsto, e por isso o economista não vê a estimativa como otimista. O mercado projeta Selic de 18% em dezembro.

- É estranho esperar um juro básico de 17,5%. Não há razão para estar em 18,5% ou 18% no fim do ano - disse ele.

O principal argumento para a projeção é a inflação, que cai mês a mês e agora já mostra convergência para a meta. A CNI espera que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esteja exatamente na meta ajustada estipulada pelo governo, 5,1%, no fim do ano. Na projeção de julho, a estimativa era de inflação de 6%. No início de 2005 a previsão era de 7,6%. Com a queda dos juros, a formação bruta de capital fixo, que mede o volume de investimentos, deve crescer 4% esse ano.

Assim, a CNI revisou de 3,2% para 3,5% a previsão de crescimento da economia brasileira para este ano. O PIB industrial, formado pelo desempenho das indústrias de transformação, extrativa, construção civil e serviços industriais, deverá crescer 4,4% contra 4,2% da projeção anterior. Para a indústria de transformação, a projeção passou de 3,8% para 4%.

Segundo Castelo Branco, apesar da acomodação registrada em julho e agosto, as perspectivas para os últimos meses do ano são de aumento nas demandas interna e externa. Para ele, apesar da atividade industrial ter iniciado o terceiro trimestre com sinais de arrefecimento, esse movimento deve ser temporário.

A expansão do crédito é um impulso extra para a venda de bens semi e não-duráveis. Para a CNI, esse crescimento é ''intrigante'' e ''paradoxal'', pois contrasta com a crise política, os juros ainda altos e a desvalorização cambial. No entanto, o PIB do segundo trimestre, que cresceu 1,4%, mostra que a economia está crescendo a níveis comparáveis aos de 2004.

- A demanda interna mostra sinais de crescimento por conta do aumento do emprego e do rendimento do trabalhador. Quanto às exportações, mesmo com a questão cambial, não há sinais de queda.

Com isso, a CNI também revisou para cima a projeção para o superávit da balança comercial brasileira, que deve atingir a casa dos US$ 41 bilhões neste ano, acima da estimativa do governo, que prevê saldo de US$ 38 bilhões.

A estimativa é resultado da alteração da projeção para as exportações que, apesar da desvalorização do dólar, devem chegar a US$ 117 bi, acima dos US$ 114 bi previstos inicialmente. A projeção de importações se manteve em US$ 76 bi.