Título: Os poderes de Aldo
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 02/10/2005, País, p. A3

Tão logo definido o novo presidente da Câmara, a oposição começou a espalhar pela Casa que o processo de cassação dos envolvidos no Mensalão terminaria em pizza. A alegação era de que Aldo Rebelo é aliado dos parlamentares enrolados e que contou com os votos deles para se eleger, derrotando o candidato do PFL, José Thomaz Nonô (AL). O próprio Nonô dá a senha: - Pessoalmente, não queria estar ao lado dos vencedores. O preço a pagar é muito caro - resumiu.

O medo da oposição funda-se no regimento interno, que permite ao presidente da Casa influenciar nas decisões da Mesa Diretora. O primeiro passo de influência pode vir na elaboração do relatório da Corregedoria. O texto pode trazer opções de punição - como advertência, suspensão temporária, perda temporária de mandato ou perda definitiva (cassação ) - além da sugestão pelo arquivamento.

Outra possibilidade é o presidente procrastinar o encaminhamento dos pedidos de cassação. Após a aprovação do relatório pela Corregedoria, os processos precisam ser numerados para ser encaminhados ao Conselho de Ética.

- Nesta situação, que garantia temos que os primeiros processos a chegarem no Conselho de Ética não serão dos adversários da Mesa, deixando os eleitores de Aldo para ad infinitum? - questionou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo de de José Dirceu (PT-SP).

Governistas negam que isso vá acontecer. Para eles, há consenso de que a única saída para pôr um fim à crise política é acelerar o processo de punição. O próprio Planalto teria esta avaliação. Teme que um Congresso enfraquecido gere uma desilusão política que, em última instância, prejudique os planos de reeleição de Lula.

- Quem tiver que ser cassado, será cassado. Não há pressão - disse um deputado decisivo para a vitória de Aldo.

Um dos maiores defensores de punição aos envolvidos do mensalão, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Antônio Carlos Biscaia, transfere a responsabilidade para os deputados, não para a presidência da Casa. Para o petista, o voto secreto é muito mais perigoso do que a presença de Aldo no comando.