Título: Guerra política ameaça investigações
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 02/10/2005, País, p. A3

Com o fim da sucessão na Câmara e o término do prazo para filiação partidária, que dominou o Congresso nos últimos dias, o foco da disputa política entre governo e oposição volta para dentro das CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão. O objetivo dos dois grupos é enfraquecer o adversário, visando às eleições de 2006. Em meio a esse jogo político, os trabalhos das CPIs, e até mesmo os processos de cassação dos suspeitos do mensalão estão ameaçados de terem o ritmo reduzido pelos operadores do Palácio do Planalto. Os governistas reforçarão a tese de que a corrupção não subiu a rampa do Planalto. Também buscarão proteger ao máximo a posição do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, tentando evitar que a crise política contamine a economia.

A oposição segue no sentido contrário. Tenta manter a crise em temperatura alta até o fim do governo Lula, apostando na vitória nas urnas.

Fica assim evidente que a corrida eleitoral do ano que vem pode ter impacto direto nas investigações: a oposição e a base de aliados do governo tendem a guardar suas munições mais pesadas para quando se aproximarem as eleições. Essa estratégia evitaria que a população esquecesse as denúncias feitas contra os rivais.

Parcela da oposição considera que, após a eleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à presidência da Câmara, apenas novas denúncias poderão enfraquecer ainda mais o governo e os parlamentares que já estão com processo de quebra de decoro caminhando no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa.

- Eles (os 16 deputados incluídos no relatório parcial feito pelas CPIs dos Correios e do Mensalão) ganharam ânimo novo e acham que vão conseguir ter êxito - afirma o líder da minoria no Senado, senador José Jorge (PFL-PE), referindo-se ao fato de as cassações serem decididas pelo plenário da Câmara por meio de voto secreto.

Governistas e oposição têm cartas nas mangas a serem exploradas. Na CPI dos Bingos, reduto da oposição e onde o governo conta com poucos parlamentares, os alvos são claros. PFL e PSDB tentarão aprofundar o debate em torno do assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel e as denúncias de corrupção em Ribeirão Preto na época em que o ministro Antonio Palocci era o prefeito.

João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, disse à CPI dos Bingos que o ex-prefeito foi assassinado por não tentar fazer com que o esquema de corrupção montado naquela cidade fosse utilizado apenas para financiar o PT, e não para o enriquecimento particular das pessoas envolvidas. O depoimento do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que acompanhou o caso pela Câmara, está agendado para terça-feira.

A oposição, no entanto, está cautelosa em relação à convocação de Palocci. Quer a economia preservada, até para que, caso vençam as eleições de 2006, não tenham de assumir um país em dificuldade. Palocci será convocado pela CPI dos Bingos só quando uma prova contundente surgir. Ou, nas palavras de um dos parlamentares da oposição, uma prova como se fosse ''marca de batom na cueca''.

O senador José Jorge acha que o caminho para a oposição obter essa prova contra Palocci pode estar no aprofundamento das investigações das declarações feitas pelo ex-gerente financeiro da gráfica Vilimpress, de Ribeirão Preto, Luciano Maglia. Em depoimento à CPI dos Bingos realizado no último dia 27, Maglia afirmou que a gráfica em que trabalhava participou de um esquema de caixa 2 para financiar as campanhas do PT de 2000 e 2002.

Segundo Maglia, a Leão&Leão - empresa de coleta de lixo acusada de dar propina mensal de R$ 50 mil ao então prefeito Palocci - pagava à Vilimpress os materiais de campanha do PT, em valores superiores aos dos serviços. O valor que sobrava desses pagamentos ainda eram repassados ao PT.

A oposição quer ainda explorar o caso do contrato entre a Caixa Econômica e a Gtech. A base do governo tentará rebater com o argumento que as relações entre Caixa e Gtech surgiram no governo Fernando Henrique Cardoso e que, na realidade, o governo Lula conseguiu diminuir a dependência da estatal em relação à Gtech, além de reduzir os prejuízos da Caixa causados por esse contrato. O governo está buscando, inclusive, provas contra parlamentares da oposição que teriam feito lobby a favor da Gtech.

O Planalto tentará também colocar na pauta da comissão as investigações da máfia do apito, em que juízes de futebol recebiam dinheiro para participar de esquema de apostas. O líder da minoria no Senado considera a atitude uma manobra governista, mas disse que a oposição se esforçará para que o tema não seja abordado na CPI dos Bingos.