Título: Mulher, negra, favelada e do Andaraí
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 02/10/2005, País, p. A5

Nascida e criada no Morro do Andaraí, Jurema Batista é conhecida pelo grande público como uma representante mais jovem da ex-governadora Benedita da Silva. Ela, afinal, encaixa-se com perfeição ao lema ''mulher, negra e favelada''. Apesar das semelhanças, não é Benedita o guru político de Jurema, mas o deputado federal Carlos Santana. Embora Jurema hesite em reconhecer:

- Ele tem mais mobilização sindical, eu sou uma militante dos movimentos sociais - desconversa.

Representante de movimentos sociais, como dos negros, das mulheres e comunitário, a evangélica Jurema Batista teve 20% dos votos no diretório estadual, pouco mais da metade do candidato do Campo Majoritário, Alberto Cantalice. Cumprindo o primeiro mandato de deputada estadual depois de ter passado dez anos na Câmara de Vereadores, Jurema conta que a ligação com Carlos Santana surgiu no início da década de 1990, quando ele começava o primeiro mandato como deputado federal:

- Firmamos o compromisso de criar um movimento popular, que denominamos Opção Popular. Ele se tornou forte regionalmente, mas agora passou a fazer parte do Movimento PT - explica.

A candidata da corrente à presidência do partido, Maria do Rosário, foi derrotada no primeiro turno das eleições internas, ficando apenas com o quinto lugar. Tradicional aliada do Campo Majoritário no Diretório Nacional, a tendência é considerada, depois do Campo, a mais moderada do partido. Apesar disso, Jurema se autodenomina uma militante de ''centro-esquerda'' e diz que não apoiaria Ricardo Berzoini, candidato do Campo Majoritário à presidência do partido - ''nem amarrada'', como faz questão de ressaltar. Sobre a disputa no estado, Jurema é concisa:

- É uma eleição muito clara. Quem concorda com tudo isso que está acontecendo, que vote no Cantalice. Quem não concordar, que vote em mim. Não tenho cargo para dar para ninguém, não tenho emprego para dar a ninguém. o que tenho é apenas a minha história - ataca.

Apesar da aparente repugnância às práticas do Campo, Jurema diz não ter sido ''comunicada'' sobre a utilização maciça de kombis para transportar eleitores em algumas regiões da cidade.

Provavelmente o problema foi apenas falta de comunicação, já que um dirigente da 40ª zonal, de Bangu, controlada por seu padrinho político Carlos Santana, reconheceu ao JB no primeiro turno que o uso de kombis é freqüente e, segundo ele, ''necessário'' na região. Ao chegar nesta zonal, grande parte dos eleitores recebia um santinho com os nomes e números de Maria do Rosário à presidência nacional, Jurema Batista à presidência estadual e Índio à presidência municipal.