Valor Econômico, v. 20, n. 4823 27/08/2019. Brasil, p. A2

Economia deve escapar da recessão técnica no 2º tri, estimam analistas

Ana Conceição


A economia do país deve ter escapado da chamada recessão técnica, quando o PIB caiu por dois trimestres consecutivos, mas continuou a rodar em níveis muito baixos no período de abril a junho. Mediana das estimativas coletadas pelo Valor Data aponta crescimento de 0,2% no PIB do segundo trimestre sobre o primeiro, feito o ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo período do ano passado, há expectativa de um crescimento de 0,8%.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado das Contas Nacionais Trimestrais na quinta-feira. No período de janeiro a março, houve queda de 0,2% na comparação com o quarto trimestre de 2018. Foi a primeira retração do PIB desde o último trimestre de 2016.

Pelo lado da oferta, indústria, com alta de 0,4%, e serviços, com expansão de 0,3%, devem puxar a alta tímida do PIB do segundo trimestre sobre o primeiro. Dentro do PIB industrial, a construção, depois de duas quedas consecutivas, deve registrar alta. Segundo a MCM Consultores, que prevê crescimento de 0,3% nesse quesito, a produção de insumos típicos da construção cresceu e a queda da massa de rendimentos do setor desacelerou no período.

Do ponto de vista da demanda agregada, o investimento, com alta de 2,3% deve ser o destaque. O consumo das famílias teria aumento tímido, de 0,3%, segundo a mediana das estimativas. Sob forte ajuste fiscal, a demanda do governo deve cair 0,3%.

No caso do investimento, que deve interromper uma sequência de duas quedas fortes, o crescimento tende a se concentrar em máquinas e equipamentos, como ocorreu em outros momentos nesse período de fraca recuperação da economia. Segundo Flavio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, parte da alta também se deve à produção de ônibus e caminhões, que aumentou 10% no período. A instituição prevê crescimento de 2,1% nessa linha do PIB. A importação - apenas contábil - de plataformas de petróleo desta vez não deve interferir no resultado, como se deu em outras ocasiões.

Seja como for, a alta do investimento pode ser apenas pontual. Para Andressa Monteiro Durão, economista da Icatu Vanguarda, apesar da aprovação da reforma da Previdência na Câmara, as incertezas internas ainda são elevadas e o cenário externo também preocupa, um cenário que não ajuda as empresas a investir. A gestora prevê estabilidade no PIB do segundo trimestre, na comparação com o primeiro. "Ainda não vemos melhora robusta na economia. Os dados de atividade ainda sinalizam fraqueza no lado da oferta e da demanda", diz.

Com uma projeção um pouco melhor, de crescimento de 0,2% no PIB do segundo trimestre sobre o primeiro, o economista-chefe do Rabobank, Maurício Oreng, diz que a economia continua a se recuperar de forma gradual. No segundo semestre, diz, a atividade deve começar a refletir de forma mais enfática a melhora das condições financeiras. A liberação das contas do FGTS deve ajudar o PIB a partir do fim do terceiro trimestre. Mas o cenário externo adverso pode diminuir a velocidade da retomada, afirma Oreng. "O mundo tem crescido menos desde o ano passado e neste ano esse processo se aprofundou", diz.

E há os problemas na Argentina, cujo impacto mais forte já deve ter passado, mas ainda contribui para tirar "alguns décimos do PIB". Há risco de o mau humor externo contaminar mais a economia brasileira. "Mas ainda precisamos entender o quão forte serão esses ventos de fora."

Oreng também considera que o dado forte do investimento no segundo trimestre é pontual. "É um ajuste. Algumas empresas podem estar executando investimentos que estavam retidos há muito tempo, mas não consigo ver isso decolando", afirma. Também nesse quesito a melhora deve ser gradual, diz.

Ainda no lado da demanda, o consumo das famílias deve crescer no mesmo ritmo do primeiro trimestre, 0,3%. A lenta recuperação do emprego, baseada em vagas precárias, não deixa muito espaço para grandes avanços nessa linha do PIB. Premido pelo ajuste fiscal, o consumo do governo deve cair 0,3% na série com ajuste sazonal. O setor externo, por sua vez, deve dar contribuição negativa para o PIB, com queda maior nas exportações que nas importações. Segundo Serrano, do Haitong, o setor externo deve tirar 0,2 ponto do PIB do segundo trimestre, para o qual o banco estima alta de 0,3%.