Valor Econômico, v. 20, n. 4823 27/08/2019. Brasil, p. A4

Questionamento de dados gerou insegurança, diz Maia
André Guilherme Vieira
Marcelo Ribeiro 
Raphael Di Cunto


Para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente Jair Bolsonaro "gerou insegurança nos parceiros comerciais brasileiros" ao questionar os dados sobre o aumento do desmatamento da região amazônica apontados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Ele [Bolsonaro] falou uma coisa e foi interpretado de outra [forma]", disse Maia, observando que, quando o presidente questionou os dados do Inpe, causou insegurança nos parceiros do país, "porque todo mundo vê a região da Floresta Amazônica como um patrimônio da humanidade". O presidente da Câmara deu essas declarações em entrevista coletiva após participar de almoço com empresários e investidores franceses organizado pela Câmara de Comércio França-Brasil, em São Paulo. "É [um assunto] muito sensível."

Segundo Maia, a "narrativa" de Bolsonaro passou a mensagem de impunidade a responsáveis pelo desmatamento. "Você faz uma narrativa dizendo que o Estado brasileiro passou a interferir demais na vida do cidadão, mas isso não significa que uma pessoa que desmate não vai sofrer as penas da lei. Por isso que eu digo que ele não quis dizer o que eu acho que alguns interpretaram como, vamos dizer assim, alguma liberdade para desmatar no Brasil."

Para Maia, o discurso de Bolsonaro foi uma sinalização errada. "Se governo tivesse chamado o diretor do Inpe e tivesse dito que precisava dos dados para ficar informado e ter uma narrativa que não fosse contra o Brasil... Mas ter negado as informações gerou atrito do Brasil com outros países", afirmou.

Em Brasília, pela manhã, ao comentar a troca de farpas entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron, Maia disse que o francês ficou isolado na tentativa de bloquear o avanço do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e Mercosul como forma de protestar contra o tratamento dado pelo governo brasileiro às queimadas na Amazônia. Segundo Maia, líderes do G-7, ao não endossarem a ofensiva de Macron, frearam os excessos do presidente francês. O presidente da Câmara reconheceu que as críticas de Macron ao desmatamento são corretas e indicou que falas de Bolsonaro podem ter sustentado o comportamento do francês.

"O presidente da França ficou isolado. Acho que ele tem razão na crítica ao desmatamento, todos nós temos a mesma preocupação que ele, mas daí a transformar isso numa crise da União Europeia com o Brasil, com o Mercosul, de um tratado, de um acordo que vem sendo construído ao longo de 20 anos, eu acho que os próprios países do G-7 deram um freio nesse excesso."

Nas próximas semanas, Maia pretende reunir-se com membros de Parlamentos de países da região amazônica e com representantes das embaixadas e países europeus. "Depois vamos organizar uma visita para mostrar que a agenda da Câmara, do Brasil, do Congresso não estará nunca relacionada com a flexibilização da proteção do ambiente".