Valor Econômico, v. 20, n. 4827 31/08/2019. Política, p. A6

MDB deve eleger Baleia Rossi para substituir Jucá no comando da sigla

 Andrea Jubé
 Fernando Exman
 Vandson Lima


 

A um mês da convenção que elegerá a nova direção nacional do MDB, consolida-se o nome do líder da bancada, deputado Baleia Rossi (SP), como favorito para a sucessão do presidente Romero Jucá. Depois de uma acachapante derrota eleitoral, o partido tentará liderar a reconstrução de um centro político na atual conjuntura de polarização. A sigla também está disposta a enfrentar o debate sobre a corrupção, pauta que domina a agenda nacional e atingiu a cúpula emedebista. Na última quinta-feira, uma cartilha elaborada pela Fundação Ulysses Guimarães, à qual o Valor teve acesso, foi distribuída aos parlamentares e principais lideranças propondo as diretrizes do novo programa político e econômico.

Com o título "Resistir mais uma vez", o documento sustenta que, no cenário de radicalização entre petistas e bolsonaristas, o partido deve trilhar o caminho do centro, onde está o "futuro" da política. "É evidente que o sistema político brasileiro dá mostra de decadência. Mas não é hora de perplexidade nem de paralisia. Ao contrário, é hora de reagir, de encontrar e de propor soluções", diz um trecho.

A cartilha propõe três pontos que nortearão o debate da sigla a partir da Convenção Nacional de 6 de outubro: o enfrentamento da crise social, que engloba forte desemprego e desigualdade social, o compromisso com a democracia e o fortalecimento do Estado Democrático de Direito e a corrupção que "impede o desenvolvimento econômico".

No trecho em que trata da corrupção, a cartilha diz que o partido "não deve temer esse debate nem essa luta". Prega o combate a práticas como "fisiologismo, nepotismo ou patrimonialismo", que se tornaram comuns na política brasileira.

Para isso, impõe-se um "trabalho contínuo e permanente de fiscalização, controle e punição", pelas instituições do Estado definidas em lei. Em uma crítica velada a práticas associadas à Lava-Jato, o documento ressalta que esse enfrentamento não deve implicar "ineditismo" nem "espetacularização midiática".

Entretanto, o partido não faz uma autocrítica nem menção às denúncias de desvios de recursos públicos que atingiram dirigentes nos últimos anos. Apenas três meses após deixar a Presidência da República, Michel Temer, principal liderança do MDB, foi preso acusado de desvio de recursos nas obras da usina nuclear de Angra 3.

A prisão de Temer logo foi revogada, e dois meses depois, ele foi novamente detido, mas liberado após seis dias por ordem do Superior Tribunal de Justiça. O MDB divulgou nota na ocasião alegando a ausência de provas contra o ex-presidente e lamentando a "postura açodada" da Justiça. Ex-dirigente da sigla, o ex-ministro Geddel Vieira Lima está preso há dois anos, depois que a Polícia Federal encontrou malas com R$ 51 milhões em imóvel ligado a ele em Salvador.

No ano passado, o eleitor mostrou nas urnas a insatisfação com os rumos tomados pelo partido, que também arrasta a pecha de fisiologista. O candidato à Presidência, Henrique Meirelles, obteve 1% dos votos, a bancada de deputados foi reduzida à metade, o partido perdeu a histórica hegemonia no Congresso Nacional.

Caciques do porte de Eunício Oliveira (CE), Edison Lobão (MA), Roberto Requião (PR) e o próprio Romero Jucá (RR) não se reelegeram. O senador Renan Calheiros (AL) perdeu a eleição para a presidência do Senado para um representante do baixo clero, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

É nessa conjuntura que o sucessor de Jucá assumirá com o desafio de reconstruir a imagem do MDB, cujas raízes remontam a capítulos antológicos da história brasileira, como a transição democrática após 21 anos de regime militar, tendo o deputado Ulysses Guimarães como protagonista. A partir do governo Temer, o MDB tenta se associar à bandeira reformista, inaugurada com as reformas da Previdência e trabalhista. Baleia Rossi deu continuidade a essa retórica como autor da reforma tributária, que está em discussão na Câmara.

O esforço da cúpula agora é construir uma chapa única de consenso encabeçada por Baleia. O nome do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi colocado, com a simpatia de uma ala da cúpula, mas o estatuto proíbe que detentores de cargos majoritários sejam dirigentes. O deputado estadual Gabriel Souza (RS), egresso da juventude emedebista, corre por fora, tentando mobilizar os descontentes em torno de sua postulação. Aos 47 anos, Baleia é considerado habilidoso e transita em várias frentes no Congresso. O viés pragmático da escolha de seu nome é a abertura da vaga de líder, que deflagrará uma disputa pela sucessão na bancada.

Críticos de sua candidatura alegam que Baleia não representaria a renovação porque sua eleição significaria a continuidade do grupo de Temer na direção da sigla. Ele é filho de um antigo aliado de Temer, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, que deixou o cargo no governo Dilma Rousseff em meio a denúncias de desvios na pasta.

Para rebater as críticas, Baleia terá o desafio de construir uma chapa excluindo caciques da direção. Ao Valor, o deputado disse que seus esforços no momento voltam-se para a reforma tributária e preferiu não comentar a sucessão no MDB. O deputado Fábio Ramalho (MG) afirma que, se depender da bancada, a eleição de Baleia já está definida.

Em outra frente, Gabriel Souza apresenta-se como a imagem da renovação. Aos 35 anos, já completou duas décadas no MDB. Foi presidente da juventude emedebista, líder do governo Ivo Sartori e deputado estadual mais votado no Rio Grande do Sul no ano passado. "Queremos uma reflexão interna, e a melhor maneira é apresentar uma chapa de oposição", disse ao Valor.