Valor Econômico, v. 20, n. 4828 03/09/2019. Política, p. A7

"Vou para a ONU nem que seja de cadeira de rodas" 

 Fabio Murakawa

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que irá à Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) "nem que seja de cadeira de rodas, de maca". Ele afirmou, ao deixar o Palácio da Alvorada, que quer falar sobre a Amazônia no discurso de abertura do evento, no dia 24 de setembro, honraria que tradicionalmente cabe ao presidente do Brasil.

Bolsonaro passará no domingo por uma cirurgia para corrigir uma hérnia incisional, que surgiu em decorrência das três intervenções pelas quais passou por causa do atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral no ano passado. "Toda cirurgia é um risco, mas essa, com relação às últimas três, vai ser a menos invasiva, que oferece menor risco", disse.

"Por que a pressa da cirurgia? Porque no dia 22, se eu não me engano, eu tenho que estar na ONU", disse Bolsonaro. "Eu vou comparecer à ONU, nem que seja de cadeira de rodas, de maca. Eu vou comparecer porque eu quero falar sobre a Amazônia."

Segundo o presidente, será "uma chance que eu tenho de falar ao mundo sobre a nossa Amazônia". "Eu vou deixar essa oportunidade?", questionou.

Ele disse que quer "mostrar para o mundo com bastante conhecimento, com patriotismo, sobre essa área ignorada por tantos governos que me antecederam": "Ela [Amazônia] foi praticamente vendida para o mundo. Eu não vou aceitar esmola de país nenhum do mundo a pretexto de preservar a Amazônia, mas na verdade ela está sendo loteada e vendida."

Bolsonaro disse ainda que, se tivesse voltado do encontro do G-20, em Osaka, prometendo demarcar novas reservas indígenas e áreas de proteção ambiental, "a Amazônia seria um Polo Sul ou um Polo Norte". "Não estaria pegando fogo em lugar nenhum. Eles querem é, cada vez mais, ao demarcar mais terras, inviabilizá-las para nós", afirmou.

Ontem, Bolsonaro desistiu de ir à cidade colombiana de Leticia para uma reunião com presidentes de países sul-americanos sobre a situação da Amazônia. Ainda não se sabe se ele enviará representantes ou se o evento será cancelado devido à ausência do presidente brasileiro.

No sábado, o presidente acompanhará o desfile militar de 7 de Setembro, pela manhã, em Brasília, e à tarde segue para São Paulo para a intervenção cirúrgica.