Valor Econômico, v. 20, n. 4849, 02/10/2019. Finanças

Quando o BC concluirá a troca de swaps cambiais por dólares das reservas?

Alex Ribeiro


Com o anúncio do Banco Central de que vai trocar os swaps cambiais que vencem em 2 de dezembro por dólares à vista, a venda potencial de reservas internacionais deverá superar US$ 21 bilhões. Quando o Banco Central poderá terminar esse programa de intervenções?

A julgar pela principal justificativa que o Banco Central apresentou para essa nova estratégia de intervenção, depois desse lote de operações estaríamos mais próximos do que longe do fim desse programa. Se continuar por mais tempo, o BC deverá apresentar novas justificativas.

Em voto apresentado aos seus pares defendendo a medida, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, disse que a intervenção casada seria necessária devido à menor liquidez no mercado de câmbio provocada pela troca que as empresas estavam fazendo de dívida externa por captações no mercado doméstico.

Esse é um evento temporário que, em tese, justifica plenamente a ação do Banco Central, para evitar uma volatilidade desnecessária da taxa de câmbio. Se houvesse uma mudança permanente de fundamentos que provocasse uma saída perene de dólares, o Banco Central estaria apenas enxugando gelo - o melhor, nesse caso, seria deixar a taxa de câmbio buscar o seu novo ponto de equilíbrio para ajustar o balanço de pagamentos.

A questão relevante, portanto, é: quando terminará essa onda de troca de dívida externa por dívida interna? O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, respondeu a essa pergunta na semana passada, em uma entrevista à “GloboNews”, cujo conteúdo completo está disponível apenas em transcrição feita no site G1.

Ele informou que as empresas já fizeram operações que somam algo como entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões e que isso representa “grande parte do movimento” de troca de dívida externa por dívida doméstica.

“O que a gente está tentando mapear é o volume de dívida que existe e quanto mais pode ser feito dessa operação. Nós entendemos que grande parte do movimento foi feito, mas outras variáveis virão”, disse Campos. Ele foi questionado quanto de pré-pagamento de dívida externa foi feito: “É difícil estimar no detalhe, mas estimamos algo entre US$ 15 bilhões.

A dúvida é o que o BC vai fazer mais adiante, quando as empresas concluírem a troca da dívida externa por interna. Em entrevista de divulgação do Relatório de Inflação, Campos disse que não tem o objetivo de se desfazer do estoque de swaps, que inicialmente era de US$ 70 bilhões, mas atender à demanda do mercado por instrumentos cambiais onde ela estiver.

Campos foi enigmático na entrevista à “GloboNews”, ao dizer que a troca de dívida externa por interna avançou, mas “outras variáveis virão”. A declaração sugere que o Banco Central está de olho em outras variáveis para determinar a continuidade - ou não - do programa a partir de dezembro.

É bom notar que as vendas de dólares do BC no mercado de câmbio vêm superando o déficit no fluxo cambial apurado até agora. Do início do programa, em 21 de agosto, até a última estatística disponível, o fluxo cambial contratado foi negativo em US$ 5,458 bilhões. Nesse mesmo período, as intervenções contratadas do BC somaram US$ 10,659 bilhões (foram feitas mais intervenções desde então, mas os dados do fluxo cambial ainda não estão disponíveis).

O excesso de dólares spot vendido pelo Banco Central está sendo absorvido pelos bancos, que reduziram a sua posição vendida em câmbio. Uma outra parte representou a troca de dólares à vista pelas linhas de empréstimo oferecidas anteriormente pelo BC.

Nos dois casos, a venda de dólares à vista pelo BC atende a um objetivo diferente do anunciado inicialmente. A autoridade monetária não apenas está provendo uma ponte de liquidez para as empresas trocarem dívida externa por interna, mas também está suprindo linhas interbancárias aos bancos.

Como já está fazendo um programa aparentemente com objetivos mais ampliados, a questão relevante é se o BC vai continuar o programa de venda de reservas com a justificativa de reduzir as linhas de empréstimo em dólar ou de substituir linhas interbancárias no período de aperto mais severo de liquidez no fim do ano.

Em tese, essa estratégia de intervenção mais ampliada poderia ser justificada pelas condições internacionais. O Federal Reserve está sendo obrigado a fornecer liquidez ao sistema, depois que os juros interbancários tiveram forte alta. A venda de dólar spot não é a forma que o BC tradicionalmente atende a deficiências no interbancário -o instrumento preferencial são as linhas de empréstimo -, mas é bom considerar que na prática a forma de atuação da autoridade monetária já se modificou.