Valor Econômico, v. 20, n. 4914, 08/01/2020. Brasil

Weintraub critica educação, mas se equivoca em dados

Matheus Schuch
Rafael Bitencourt
Hugo Passarelli


O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse ontem que vai tirar o Brasil do “fundo do poço” e da última colocação da América do Sul na próxima edição do Programa Internacional para Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês).

Embora o desempenho brasileiro esteja longe da elite educacional, a afirmação de Weintraub é equivocada. O Pisa avalia os conhecimentos em leitura, matemática e ciências. Em 2018, a posição do Brasil em cada disciplina foi, no máximo, igual - mas não pior - à dos países sul-americanos com pior posição, como Argentina.

“O fundo do poço foi em 2018. O senhor vai marcar já a reversão disso. Não dá para colocar [o Brasil] em primeiro lugar da América do Sul ainda, porque a gente está em último, mas a gente já vai sair do fundo do poço”, disse Weintraub em vídeo transmitido ao vivo pelo Facebook ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Ambos cometeram equívocos ao fazer os comentários sobre o Pisa. Bolsonaro afirmou que, em 2021, o Brasil teria uma nova edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova aplicada anualmente aos brasileiros.

Weintraub corrigiu o presidente, afirmando que o próximo Pisa seria aplicado em 2022 - na realidade, a prova internacional será realizada novamente em 2021 e, em 2022, ocorrerá a divulgação dos resultados.

Bolsonaro ainda afirmou que, desde que o Pisa é aplicado, em 2000, o Brasil vem caindo, outra incorreção. Até 2009, o país vinha mostrando evolução no exame, fato que chegou a ser destacado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável  pela elaboração do Pisa.

Ao comentar o programa Conta Pra Mim, lançado no ano passado pelo Ministério da Educação (MEC) e que pretende estimular a leitura de pais para filhos, Weintraub disse que “sai o kit gay e entram a leitura e a família”, retomando o termo cunhado por conservadores e já considerado inverídico pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em outubro do ano passado, o TSE mandou tirar do ar vídeos de Bolsonaro com o termo “kit gay”, afirmando que é “sabidamente inverídico” que o governo petista tenha criado um “kit gay” para “ensinar sexo” às crianças.

No vídeo de ontem, Bolsonaro manteve o posicionamento de campanha, elogiando o fato de não ter visto no MEC a discussão sobre “ideologia gênero”, outra expressão de origem conservadoras para atacar os debates sobre gênero e educação sexual.

“Uma parte do eleitorado simpatizou comigo na campanha tendo em vista a educação. Eu não vi discussão sobre ideologia, isso no meu entender não deve ser discutido lá [no MEC]”, afirmou o presidente, acrescentando que “o pai quer que o filho seja homem e a filha seja mulher.”

Segundo Bolsonaro, dada a “enormidade do MEC”, é possível que, nas mãos dos que têm compromisso com o poder, ocorra um “estrago” ao  país. “Começa lá na base, aquela pessoa ser preparada para ser um militante, para ajudar aquelas pessoas a continuarem no poder usando as armas da democracia”, disse.

Foi da gestão de Ricardo Vélez Rodríguez, primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, que partiu iniciativa como a descrita pelo presidente. Vélez enviou carta às escolas pedindo que os alunos cantassem o hino nacional e, em seguida, fosse lida uma mensagem que acabava com o slogan de campanha (“Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”).