Valor Econômico, v. 20, n. 4915, 09/01/2020. Política, p. A8

No MT, aliados do governador e bolsonaristas disputam vaga de Selma

Vandson Lima
Renan Truffi 


Cassada por abuso de poder econômico e caixa dois durante a campanha eleitoral em 2018, a senadora Selma Arruda (Podemos-PR) ainda nem deixou o cargo, mas as forças políticas no Mato Grosso já estão em movimento pela sua sucessão.

Dois grupos se organizam com mais força. De um lado, os que vão buscar o vínculo com o bolsonarismo e com o legado de Selma, eleita sob o mote de “Sergio Moro de saias” após ganhar notoriedade por condenar figurões da política local quando era juíza. Do outro, estão os aliados do governador Mauro Mendes (DEM) - pelo menos três já se colocam, sendo que um, Carlos Fávaro (PSD), tem apoio do governador em uma estratégia jurídica para ficar na cadeira de senador até a eleição, que ocorrerá em 26 de abril.

A confirmação da cassação de Selma está pendente de um ato burocrático do Senado, que deve ocorrer na volta dos trabalhos legislativos, em fevereiro.

O deputado federal José Medeiros (Podemos-MT) é um dos nomes que desponta para a eleição suplementar. Integrante do mesmo partido que a juíza (que se elegeu pelo PSL, mas migrou em setembro), ele pretende reivindicar a herança da senadora na eleição. Em aceno aos eleitores, Medeiros acusa adversários políticos do Mato Grosso de serem os responsáveis pela cassação. “A Selma é uma pessoa correta e foi vítima de uma armação. Os grupos políticos já tinham os números, sabiam que o eleitorado queria votar nela e, ao final da campanha, já tinham as provas que estruturaram esse processo [de cassação]”, defende. “Estavam tão arrumadinhos que parecia um fichário. Foi uma armação bem engendrada e o Judiciário foi enganado. Por essa situação é que ela vai definir o seu sucessor. O próximo senador é quem a Selma apontar o dedo”, acredita.

Bolsonarista convicto, Medeiros é um dos vice-líderes do governo na Câmara dos Deputados e foi um dos primeiros a embarcar na candidatura presidencial de Jair Bolsonaro em 2018. Por isso ele espera, caso sua candidatura se consolide, receber apoio do Palácio do Planalto.

A reportagem apurou, no entanto, que o Bolsonaro ainda mantém certo distanciamento e só deve se posicionar quando a disputa estiver mais consolidada.

Outro nome que buscará aval do governo para demonstrar força é Nilson Leitão (PSDB-MT). Ex-prefeito de Sinop, ele foi o deputado mais votado do Estado em 2014, mas sofreu com o desgaste dos tucanos em 2018 e ficou apenas em quinto para o Senado. Na ocasião, o então governador Pedro Taques (PSDB-MT) sofreu uma dura derrota, perdeu a reeleição e levou consigo os tucanos.

Leitão aposta na sua influência junto ao agronegócio para se fortalecer na eleição. Uma das possibilidades é um aceno da ministra da Agricultura do governo Bolsonaro, Tereza Cristina, que teria interesse na eleição de mais um nome da bancada do agro.

O ex-deputado diz que é preciso esperar a consolidação das candidaturas. “O PSDB vai acabar fechando isso [candidatura oficial] no final de janeiro. O cenário com relação ao partido não foi nada positivo [em 2018], mas agora é um cenário novo. Fui o mais votado em 2014 e isso pode colaborar por estar na cabeça do eleitor”, diz.

Do outro lado, o governador Mauro Mendes, eleito em 2018 no primeiro turno, com 58,6%, será um cabo eleitoral disputado. Três aliados seus já se colocam como possíveis candidatos, sendo dois deles integrantes do governo.

Terceiro colocado em outubro, Carlos Fávaro (PSD), foi o responsável pela ação que cassou Selma e é o atual chefe da representação do Mato Grosso em Brasília; Otaviano Pivetta (PDT) é o vice-governador; e Júlio Campos (DEM), ex-governador. “Temos no nosso campo vários bons nomes. Como governador, vou procurar estar atento e fazer uma boa escolha”, afirmou Mendes ao Valor.

O governador não revela preferência, mas fez um movimento claramente benéfico a Fávaro. Pediu à Procuradoria do Estado que provocasse o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade de o terceiro colocado, justamente Fávaro, ocupar o Senado até que seja feita a eleição, para que o Mato Grosso não fique sub-representado - o PSD, partido do candidato, entrou nesta semana com ação similar.

Assim, Fávaro iria para a disputa com a visibilidade de já estar no cargo de senador. Ciente da costura que pode favorecê-lo, o candidato do PSD é polido nas avaliações. “Meu nome está à disposição, mas respeito os outros postulantes do nosso campo político. Não posso dizer mais do que isso”.

Estar no cargo no momento da eleição é uma vantagem. Em março de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou a chapa do governador de Tocantins Marcelo Miranda (MDB) e determinou uma eleição suplementar em junho, para eleger um governo tampão até o fim do ano - já que em outubro haveria eleição, para um novo mandato a partir de 2019. Quem assumiu o comando estadual foi o presidente da Assembleia Legislativa, Mauro Carlesse (PHS à época, hoje no DEM). Os três meses no posto deram a ele força para vencer a disputa do mandato provisório e, meses depois, também para mais um mandato completo.

Ainda assim, é um cenário complicado de prever: historicamente, eleições suplementares têm baixo índice de comparecimento. Sob reserva, um dos postulantes contou que, em sondagem encomendada recentemente por empresários, cerca de 70% dos eleitores do Mato Grosso disseram sequer saber que haverá uma nova eleição ao Senado este ano.

Um fator de desequilíbrio poderia ser, avaliam os postulantes, a entrada do ex-senador e ex-ministro Blairo Maggi (PP) no pleito, concentrando a força do agronegócio em torno de si. Ele, no entanto, não tem demonstrado interesse em voltar à política.