Título: Divisão por facções afasta menores dos abrigos
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 03/10/2005, Rio, p. A14

Revirando o lixo da praia de Ipanema, G., 12 anos, enfrentava o frio da manhã chuvosa da última quinta-feira e caminhava descalço pelas areias. Seus colegas, outros meninos de rua, estavam nas suas casas ou nos abrigos da prefeitura. Mas G. que aparentava ter oito anos, prefere a rua aos abrigos: devido à rivalidade entre menores que se dizem integrantes de facções criminosas, ele tem medo de ser identificado por outros meninos como integrante do Terceiro Comando (TC). Com um sorriso tímido, o menor contou que não consegue fugir do abrigo por causa do seu tamanho e da mão quebrada.

- Fui atropelado por um carro e não tenho força na mão para pular o muro - justificou G., que fugiu de casa há dois anos.

Quando não consegue fugir do acolhimento da prefeitura, ele mente sobre sua facção ao ser encaminhado para um abrigo.

- Para não apanhar, por que eu sou muito pequeno, falo que minha facção é o CV - disse o menino, enquanto enrolava a camisa na cabeça e fazia cara de mau.

O adolescente, que não sabe ler, é viciado em maconha, cigarro, tíner e cola de sapateiro. Mas garante que não rouba.

- Peço dinheiro para os turistas. Às vezes, ganho R$ 5 e até R$ 7 - contou o pequeno.

Apesar da vida dura na rua, G. conta que não quer voltar para casa. Segundo ele, seu pai foi expulso da residência pelos bandidos da favela e também mora na rua.