Valor Econômico, v. 20, n. 4830 05/09/2019. Política, p. A15

Volta a subir cotação de Augusto Aras para PGR

 Mariana Muniz
 Isadora Peron
 Renan Truffi
 Fabio Murakawa


O subprocurador-geral da República Augusto Aras deve ser o nome escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR). Integrantes da PGR ouvidos pelo Valor dão como quase certa sua indicação, mas ainda não houve confirmação oficial - que é aguardada para hoje.

Na noite de ontem, faltando apenas 13 dias para terminar o mandato da atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, os seis integrantes do grupo da Lava-Jato na PGR anunciaram, por meio de nota, um pedido de demissão coletiva.

Em mensagem enviada aos colegas, os procuradores afirmam que "devido a uma grave incompatibilidade de entendimento" dos integrantes da equipe em relação a uma manifestação enviada por Dodge ao Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira, eles haviam decidido pedir o "desligamento" das funções.

Pediram demissão Raquel Branquinho, considerada o braço-direito de Dodge, Maria Clara Noleto, Luana Vargas, Hebert Mesquita, Victor Riccely e Alessandro Oliveira.

Interlocutores afirmam que a manifestação que gerou a revolta dos procuradores teria sido enviada no inquérito que envolve o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.

Na terça-feira, Dodge teria pedido ao ministro Edson Fachin, relator da investigação, para arquivar trechos da delação que citavam o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Dodge confirmou em nota que recebeu pedido de desligamento de integrantes de sua equipe na área criminal. No texto, ela afirma que "cumpre a Constituição e a lei".

Favorito de Bolsonaro desde o início da disputa pela PGR, Aras é ligado ao ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) e se reuniu com o presidente diversas vezes. A última ocasião em que estiveram juntos foi no sábado, quando o subprocurador-geral foi ao Palácio da Alvorada por intermédio de seu padrinho, fundador da chamada "bancada da bala" na Câmara dos Deputados.

Candidato fora da lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), ele se apresentou como um crítico do "corporativismo" dentro do Ministério Público Federal (MPF) e "destravador" da instituição.

Após a divulgação pela imprensa de um suposto alinhamento de Aras com o Movimento dos Sem Terra (MST) no passado (que ele nega), seu nome chegou a ser considerado "fora da disputa". Mas segundo interlocutores, a reaproximação com Bolsonaro nos últimos dias pode ter servido para ajustar os ponteiros.

Aos 60 anos, Augusto Aras, que é baiano de Salvador, também teria conquistado Flávio e Eduardo, filhos de Bolsonaro, e ministros de peso, como o da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e o de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Nos bastidores da disputa, corre a informação de que foram muito bem vistas por Bolsonaro articulações que teriam sido feitas por Aras em prol do Linhão de Tucuruí e a implementação de um programa para o aprimoramento de políticas públicas no setor ferroviário.

O subprocurador também transita pela ala militar. Em 2016, recebeu três diferentes distinções militares: a Ordem do Mérito Judiciário Militar, a Ordem do Mérito Aeronáutico e a Alta Distinção do Superior Tribunal Militar (STM).

Mesmo preferido, o nome de Aras encontra resistência numa ala do PSL, partido do presidente. Deputados e apoiadores da legenda avaliam que o perfil do subprocurador não se encaixaria no bolsonarismo.

Diante do ressurgimento de Aras como mais cotado para assumir a PGR, a diretoria da ANPR divulgou uma nota em que pede para que haja uma "recusa coletiva" de cargos oferecidos por um procurador-geral da República eventualmente indicado fora da lista tríplice.

Ontem, Bolsonaro disse que poderia anunciar até hoje o nome do novo procurador-geral da República. "Espero que de hoje para amanhã nasça a criança aí que já está com nove meses e meio", disse à imprensa, ao deixar o Palácio da Alvorada.

O procurador-geral é indicado pelo presidente da República, mas precisa passar por uma sabatina e ser aprovado pelo Senado. O mandato de Raquel Dodge termina no dia 17.

Apesar dos fortes rumores sobre Aras, o presidente também voltou a negar que irá escolher um homem para o cargo e que o nome de Dodge esteja descartado para uma recondução.

"No meu tempo você só sabia o sexo da criança depois que nascia. E era homem até morrer. Hoje em dia que o pessoal quer mudar esse negócio aí. Quando a mulher está grávida hoje, tem ultrassonografia, você vê lá e tem um bigulinho... a PGR está em aberto, enquanto não bater o martelo está em aberto, tudo pode acontecer", complementou.

Também ontem, na viagem que fez à cidade goiana de Anápolis, Bolsonaro rebateu as críticas que vem recebendo de líderes estrangeiros por conta de sua política ambiental, da alta nos índices de desmatamento e das queimadas na Amazônia ao afirmar que elas são uma "ameaça" à soberania do país.